Passava pouco das 22 horas quando os The Cult subiram ao palco e colocaram em êxtase um Coliseu do Porto a rebentar pelas costuras. Uma hora e meia depois, saía uma multidão de rostos felizes e corações cheios. Um concerto emotivo e nostálgico que cumpriu com o esperado, graças à ajuda e empenho do público.
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Bandana a prender o cabelo, óculos escuros e pandeireta na mão. Um Ian Astbury igual a si próprio, igual aos 40 anos que já leva de carreira. Muita atitude e pose de estrela que foi e ainda é. Mas o tempo não perdoa. O braço da pandeireta já ostenta uma manga elástica e por algum motivo os fotógrafos são obrigados a ficar na régie, longe da frente de palco, das rugas e dos cabelos brancos.
A incomparável guitarra de Billy Duffy continua a soar bem. Uma torrente de distorção poderosa a despejar riffs orelhudos atrás de riffs orelhudos. O mesmo já não se pode dizer da voz de Astbury. O timbre está lá, mas o alcance e a potência nem tanto. Ele tem noção disso e opta por jogar à defesa. Já não vai onde não consegue chegar e vários dos versos mais potentes são mais falados do que troados. O resultado seria dececionante, não fosse a ajuda do público que cantou a viva voz e plenos pulmões as letras que leva na cabeça há décadas. Não foi muito afinado, mas foi emocionante.
Como era esperado, os pontos mais altos e entusiasmantes da noite de quarta-feira foram as músicas mais antigas. “Wild Flower”, “The Witch” e uma versão acústica e a dois de “Eddie (Ciao Baby)” na primeira metade do alinhamento. Para o final do concerto, uma sequência em crescendo de “singles”: “Fire Woman”, “Rain”, “Spiritwalker”, “Love Removal Machine” e, no encore, “Brother Wolf, Sister Moon” até um final de euforia saltitante com “She Sells Sanctuary”.
Um concerto mais competente que brilhante, a mostrar que o tempo deixa a sua marca mas que isso não tem necessariamente de ser mau. Haja consciência das limitações e um público entusiasmado como o do Coliseu do Porto que isso até pode ser bastante bom.