Uma multidão entusiasta recebeu os norte-americanos The National, protagonistas do concerto mais aguardado do último dia do Primavera Sound, no Porto.
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O gigantesco ecrã multicolor mesmo por detrás do palco - a relembrar-nos, se preciso fosse, o estatuto de que hoje desfrutam - iluminou-se quando, um por um, os elementos dos National se apresentaram à hora marcada, perante o entusiasmo generalizado.
Sem demoras, Matt Berninger revisitou os pontos altos da discografia, com "Mistaken for strangers", o terceiro tema interpretado, a gerar a primeira das várias ondas de entusiasmo previstas.
O aparato visual (deslumbrante o jogo de luzes, bem como as imagens hipnóticas projetadas no ecrã) e o "restyling" de Berninger (de óculos e fato de fino recorte) são as únicas facetas que denunciam a mudança provocada pelo sucesso. O resto - a entrega, a comunhão com o público - mantém-se intacto, sinal de que nem sempre as regras do showbiz pervertem a essência de todas as bandas.
Numa atuação em crescendo, durante a qual a cumplicidade com o público foi aumentando gradualmente até à apoteose final, os National não se limitaram a ser competentes. A par da intensa vontade em seduzir os espectadores - inesquecível a forma como o vocalista se entregou literalmente às mãos da plateia -, conseguiram acrescentar novas texturas aos seus temas, incutindo em muitos casos uma sonoridade mais intensa e condizente com as especificidades de um festival de massas.
Muito provavelmente "o" concerto do festival.
O bem-amado Grant
Um fenómeno curioso rodeou o concerto de John Grant: circulou-se com relativo à-vontade perto do palco, em contraste com os movimentos congestionados no extremo oposto.
Espraiados em toalhas, a maior parte dos presentes optou por desfrutar calmamente os temas bucólicos do músico que pertenceu durante uma década à formação dos Czars.
A opção, embora válida, não previa um pormenor: com o mais recente disco, "Pale green ghosts", Grant conciliou a habitual soturnidade dos seus temas com uma veia eletrónica que não desdenha o apelo à dança.
Comunicativo - não faltaram sequer elogios aos azulejos portugueses -, John Grant demonstrou uma genuína vontade em tornar o seu concerto num mo(nu)mento intimista que não excluísse o entusiasmo. Missão cumprida.
Mangum antifotos
"Nada de câmaras ou fotos", advertiu Jeff Mangum, com cara de poucos amigos, mal pisou o palco. Inicialmente tenso, o líder incontestado dos Neutral Milk Hotel repetiria o aviso em mais duas ocasiões nos minutos seguintes. Só com o avançar do concerto e uma maior recetividade de parte da mole humana é que o cocktail folk-indie-rock-psicadélico do primeiro grupo confirmado para a edição deste ano começou a surtir o efeito pretendido. Pese embora o peculiar e esganiçado timbre vocal de Mangum esteja longe de gerar consensos.
Lenda sónica
Poucos artistas poderão gabar-se de conseguir reunir uma audiência vasta num final de tarde, mais propício para o descanso e uma visita aos diferentes atrativos espalhados pelo recinto. Lee Ranaldo conseguiu-o no segundo concerto do dia no Palco Super Bock. A lenda que são os Sonic Youth ajuda a explicar o fenómeno, mas uma boa parte do mérito deve ser também assacada ao músico, que soube construir uma respeitável carreira a solo.
Ainda por cima, Ranaldo, acompanhado pelos Dust, assegurou um ótimo concerto, bem mais sólido do que o que proporcionou no Porto no ano passado.
Espaço familiar foi um êxito
Invocar a paternidade para justificar a ausência dos festivais já foi uma desculpa mais certeira. Pelo menos no caso do Primavera Sound, festival que criou, na terceira edição, um espaço precisamente destinado para as famílias.
No Mini Primavera, os pais tiveram ao dispor uma zona em que poderam mudar a fralda dos filhos, preparar refeições, requererem protetores de som em tamanho miniatura, guardar o carrinho ou simplesmente descansar. Os rebentos, por seu turno, poderam sempre brincar e correr livremente, longe do bulício típico de um evento desta natureza.
Apesar da média etária mais elevada dos espectadores do Primavera, sobretudo quando comparada com o Rock in Rio ou Sudoeste, notou-se este ano uma maior representatividade familiar.
Como Jorge e Alba, um jovem casal de Santiago de Compostela cujo filho nasceu há oito meses, que se mostrou "encantado" com a ideia da organização. "É uma boa medida para atrair mais casais com filhos", sublinhou Jorge, que, devido ao serviço agora criado, permaneceu no recinto até de madrugada.