Os norte-americanos The National, banda de culto em território português, eram o nome mais esperado no primeiro dia de Super Bock Super Rock e brindaram os fãs com três canções novas, uma delas apresentada ao vivo pela primeira vez.
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Presença assídua nos palcos portugueses na última década, os The National trouxeram ao Parque das Nações músicas do último disco, "Trouble will find me" (2013), êxitos incontornáveis e um aperitivo do que poderá ser um próximo e muito aguardado trabalho.
As enérgicas "Don't swallow the cap" e "I should live in salt" foram as primeiras a ecoar num Meo Arena preenchido, mas longe das enchentes que se chegaram a verificar na edição passada. Mas não olhemos à quantidade para aferir a qualidade. O público era entusiasta e eram várias as gerações de fãs que se faziam notar em frente ao palco - dos que chegaram apenas com "Trouble will find me" ou dos que se apaixonaram pela banda lá longe, em 2005, com "Alligator".
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"Bloodbuzz Ohio" foi digna da primeira ovação, com Matt Berninger a contorcer-se colado ao microfone, fundo vermelho sangue, e vozes a repetirem o refrão. Depois do regresso ao passado, "fast forward" para a novíssima e cativante "The day I die". "Find a way" também foi testada junto do público português e "I'm gonna keep you" foi tocada pela primeira vez ao vivo esta noite, conforme explicou o vocalista.
Antes de começarem, Matt Berninger deixou a sugestão: "Arranjem um par, como se estivessem num baile de finalistas." Alertado pelo guitarrista Aaron Dessner para a parca tradição deste evento adolescente por terras lusas, Berninger rematou: "Não têm baile de finalistas? É o único sítio onde os americanos têm sexo." Passada a risada, houve mesmo quem levasse a sugestão à letra e se deixasse embalar a dois pelo romantismo melancólico desta nova canção.
"I need my girl" também arrebatou corações e as pujantes "Sea of love" e "Fake empire" lançaram a chama sobre a plateia, de peito aberto e vozes ao alto. Já a anunciar o final, a incontornável e vibrante "Mr. November" alvoroçou os fãs e "Terrible love", extraída de "High violet" (2010), gerou total apoteose, com Matt Berninger a deixar-se engolir pela multidão.
Copos de cerveja pelos ares, braços esticados para o homem forte dos The National, os seguranças à beira de um ataque de nervos, uma total e feliz desordem a que Berninger já habituou os fãs. E ele satisfeito, entre o público que o acarinha a cada regresso e de quem confessou, logo no início do concerto, ter saudades.
"Vanderlyle crybaby geeks" foi a derradeira canção a ouvir-se no Meo Arena.
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A noite no palco principal, que tinha arrancado com o rock dos australianos The Temper Trap, fechou ao som dançante dos britânicos Disclosure. Como não há duas sem três, depois de terem estado no Super Bock Super Rock em 2014, ainda no Meco, e de, no ano passado, terem atuado no Alive, os irmãos Howard e Guy Lawrence regressaram para pôr a turba a dançar.
Exímios nessa arte, arrancaram com "White noise", partilhada em disco com a voz dos AlunaGeorge (Aluna Francis) e seguiram entre computadores, sintetizadores e instrumentos para "F for you". Apanhados em falso por uma falha técnica, ainda se viram obrigados a sair do palco durante cerca de cinco minutos, mas tal não desacelerou o público, que continuou a vibrar com as canções de "Caracal" (2015) e "Settle" (2013).
Os cânticos de vitória do Euro 2016
Foi um dos melhores momentos musicais da noite: à entrada da Meo Arena centenas de jovens eufóricos batiam com as mãos nos portões e berravam a plenos pulmões uma ode a Éder num rodopio épico e arrepiante com aquelas vozes todas a repetir "Allez, e foi o Éder que os fo..., e foi o Éder que os fo...". Nestes dias em que a bordoada da vitória no europeu ainda é visível no espírito de todos nós, a onda de cânticos prolongou-se amiúde noite fora nos mais inesperados locais do recinto e até a meio dos concertos. Os The National fizeram mesmo questão de felicitar Portugal pelo feito, o que gerou enorme contentamento na multidão.
Enquanto os The National seduziam o público indie no interior da Meo Arena, Jamie XX juntava uma imensa multidão debaixo da pala desenhada por Siza Vieira no Pavilhão de Portugal. O músico britânico, que também integra a banda The XX, esteve sozinho em palco e não se percebeu se fazia um live act ou se apenas se limitava a passar discos de eletrónica com um pé no garage. Mas tais dúvidas eram pormenores de somenos importância para uma assistência que converteu aquela área numa alvoroçada pista de dança com corpos oscilantes numa noite quente, tropical, sem necessidade sequer de cobrir os braços.
Momentos antes, o americano Kurt Vile esteve no mesmo local para disseminar a sua folk contaminada de indie rock. Durante cerca de uma hora, Vile deixou sobretudo peças de "b'lieve i'm goin down", disco do ano passado, mas também revisitou material de "Wakin on a pretty daze". A reação do público foi bastante positiva, não obstante uma parte ter a certa altura abandonado o palco em direção aos National, que não tardariam a começar.
Durante a tarde, o público que aproveitava a sombra da enorme pala do Pavilhão de Portugal parece ter aprovado a música de Surma, laboratório musical de uma moça de Leiria, Débora Umbelino, a espalhar um som recheado de subtilezas etéreas, com harpa, e muita vontade de explorar. Tal encanto não aconteceu com Lucius, quinteto americano a lavrar uma pop eletrónica sem grandes lampejos.
Este ano, o espaço está ligeiramente maior e visivelmente mais arrumado, com uma nova distribuição dos pontos de alimentação e não só. Parece ter sido uma boa opção. O caso mais feliz deste alargamento sentiu-se sobretudo na nova zona situada no Passeio das Tágides. É seguramente uma das áreas mais agradáveis de todos os festivais urbanos que se fazem por cá.
Trata-se de uma língua ladeada pelas águas do Tejo, cheia de pinheiros (e caruma no chão), bancos, poufs, almofadas e teleféricos a passar por cima no seu movimento silencioso. Acabou por se tornar no local ideal para escapar do frenesim do restante recinto, para descansar entre os concertos e lançar olhares contemplativos para o Tejo, com a Ponte Vasco da Gama à esquerda e a Serra da Arrábida lá ao fundo, à direita.
Segundo a organização, estiveram 18 mil pessoas no Parque das Nações no primeiro dia da 22.ª edição do Super Bock Super Rock.