Banda de Matt Berninger atua esta quinta-feira na Super Bock Arena, no Porto. Sexta-feira e sábado é no Campo Pequeno, em Lisboa.
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Depois de um “buraco negro” de quatro anos – onde coube uma pandemia e/ou por causa disso a depressão e bloqueio do vocalista Matt Berninger –, os The National recuperaram o fôlego e a criatividade, atacando 2023 com dois lançamentos: “Firts two pages of Frankstein”, em abril; e “Laugh track”, álbum surpresa editado a 18 de setembro.
Serão os ingredientes principais do concerto desta quinta-feira, na Super Bock Arena, no Porto, a que se seguem atuações no Campo Pequeno, em Lisboa, sexta e sábado.
Velhos conhecidos do público português – estrearam-se por cá em Paredes de Coura, 2005, com “Alligator” na bagagem, e entretanto realizaram 18 concertos, passando pela maioria dos grandes festivais –, a banda de Ohio tem-se notabilizado, nos últimos espetáculos, por longos alinhamentos, de quase 30 temas, onde cruzam boa parte da discografia, incidindo com mais frequência nos álbuns recentes.
É banda que já nasceu adulta. Com um nível de ambição e exigência que se revelou logo na estreia, com “The National” (2001). O recorte literário das letras, onde os temas existenciais se entrelaçam com as dificuldades do quotidiano, e um rock sofisticado, de acumulação, com grandes crescendos e clímax, foram marcas das suas canções mais célebres – e desse álbum maior do universo indie na primeira década do terceiro milénio: “Boxer” (2007).
Em “Laugh track”, escrito em simultâneo com “Firts two pages of Frankstein” e que conta com participações de Justin Vernon, Phoebe Bridges e Rosanne Cash (filha mais velha de Johnny Cash), não há qualquer guinada substantiva no som da banda nem no tom ruminativo de Berninger.
Mas tudo parece mais lento e mais “grave”. No “The Guardian” chega a escrever-se que existe uma abordagem “mais adulta” aos dilemas íntimos. A entrar nos 50, os membros dos The National parecem agora sintonizar as marcas do tempo, que pareceram sempre refletidas nas letras, com a idade que efetivamente têm.
Quase todos os temas são foscos, pausados, crepusculares. Há uma catarse ao retardador na faixa final, “Smoke detector”, que funciona também como coda das canções anteriores, resumindo, à beira de um ataque de pânico, questões sobre o destino, a aceitação e as neuroses contemporâneas. Não se cai na fossa do desespero, mas também não se encontra verdadeiro conforto. Talvez seja a derradeira condição de um adulto. E certamente o desígnio da literatura mais estimulante.
Correndo as últimas “set lists”, verifica-se que não haverá só novidades no concerto de hoje. Pérolas do rock alternativo como “Fake empire”, “Graceless”, “About today” ou “Bloodbuzz Ohio”, alternam-se com as canções recentes num ‘tour de force” que tem chegado às duas horas e meia.Com o final da temporada de concertos cronometrados, típicos dos grandes festivais, chega a época dos espetáculos com enredo.