Cantor canadiano tocou cerca de 30 músicas para as 60 mil pessoas que encheram o Passeio Marítimo de Algés esta terça-feira.
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O ano é de 2023. Algés foi parcialmente ocupada por uma ruína de cidade semi-destruída, onde uma estátua enorme e brilhante se destaca entre os arranha-céus, e uma gigante lua caída ilumina o ambiente. Não é um filme: é o início da digressão europeia de The Weeknd em Portugal. Como costuma dizer-se no adágio popular, "com jeito, tudo se faz". Com jeito, meios e visão, o que se faz supera muitas vezes barreiras e estica limites. Foi um pouco o que conseguiu o canadiano esta terça-feira, no concerto para 60 mil fãs no Passeio Marítimo de Algés, e ainda só estamos a falar do palco.
Vamos então concluir o tema: a estrutura que suporta as duas horas de concerto de Abel Tesfaye é um pouco do futuro - em termos tecnológicos, esperamos que não em reais. Pode ser este o futuro dos palcos, mas, neste, há também um pouco do passado, um pouco de um outro mundo. Com uma composição deslumbrante, ao fundo uma silhueta de prédios semi-destruidos em 3D leva-nos para um cenário impactante, criando uma visão e efeito diferentes a cada ponto do recinto.
Quase no final da ponte que atravessa o público, a estátua metálica do japonês Hajime Sorayama tem o mesmo efeito, de ser sempre visível; à frente, uma lua gigante e iluminada completam o conjunto. A estátua de Sorayama foi inspirada em "Metropolis" de Fritz Lang e o ambiente é assim: como no antigo filme, mas em versão tecnologias de topo. É futurista, expressionista, distópico. E torna-se parte indissociável do espetáculo, ainda que em determinados pontos dificulte ligeiramente a visão do músico.
Este começou às 21 horas em ponto: estava a chuva que se iniciara uma hora antes a tentar desaparecer, quando The Weeknd entrou em palco, totalmente vestido de branco e de máscara na cara, rodeado de bailarinas também vestidas de igual, tudo enquadrado no ambiente de fundo.
Com curiosidade e antecipação para o regresso do cantor a Portugal, os muitos fãs que se acumulavam no recinto desde a tarde de ontem acolheram com entusiasmo as primeiras "Take my breath", "Sacrifice" e "How Do I Make You Love Me?", um início enérgico.
"Lisboa, façam barulho!", começou por dizer, sendo esta a frase que repetiria mais vezes ao longo da noite. "Can't Feel My Face" foi logo a prova de que o canadiano vinha para agarrar atenções e desfilar êxitos - e se eles são muitos.
Entre várias covers que habitualmente toca de alguns dos artistas seus colaboradores, incluindo "Hurricane" de Kanye West e "Crew Love" de Drake, houve tempo para outros grandes temas que tornaram o músico um rapaz-estrela mundial, como "The Hills", o próprio "Starboy" ou "Party Monster".
Num desfilar rápido, sempre suportado por uma banda e bailarinas, chega-se a "I Feel it coming" com mais um elemento: umas pulseiras entregues aos visitantes à entrada e que se iluminam durante algumas músicas, um pouco como aconteceu com os Coldplay em Coimbra.
Depois, The Weeknd, que interagia sucessivamente com o público mas normalmente em modo mais rápido ou com trocadilhos durante os temas, parou e declarou-se a Portugal: "amo-vos tanto, sempre que venho cá sinto-me em casa. Não vinha há muito tempo mas prometo não deixar passar tanto, porque vos amo tanto", frisou perguntando ainda "would you die for me, Portugal?" e iniciado outro grande êxito, "Die for You".
E faltavam muitos ainda, como "Wicked Games", "Call out My Name", "Save Your Tears", "Blinding Lights"; ou, já no encore, "Double Fantasy" e a estreia mundial ao vivo de "Popular", o novo tema com Madonna para The Idol.
Mesmo a chuva pontual, o inevitável aparato policial e trânsito complicado, compensaram claramente a ida para a maioria dos fãs, em alguns casos bastante novos ou vindos de muito longe - muitos conheciam, entoavam e filmavam cada música. A questão com o concerto de Abel Tesfaye é um pouco o rápido encadeamento: o artista quer tocar tantos temas e tem tantos populares que às vezes parece uma corrida, não uma maratona; e perde-se um pouco do ambiente que tão cuidadosamente foi pensado na parte cénica, ainda que com momentos de maior comunhão. Nada que minore o impacto do espetáculo, ou a celebração dos muitos presentes neste pedaço de futuro.