Festa em Braga dura dois dias, na sexta e no sábado, e vai da dança de Jonas & Lander à música de Bruno Pernadas, passando pela DJ Umafricana, até à arte das crianças. “Interessava-nos explorar um formato diferente", diz ao JN o novo diretor do Theatro Circo, Luís Fernandes.
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“Bate Fado” é um dos espetáculos de dança portuguesa mais aclamados dos últimos anos. Estreou em 2021, mas nunca pisou nenhum palco da terceira maior cidade do país, Braga. Nem esta peça, nem qualquer outra da célebre dupla de criadores, bailarinos e coreógrafos Jonas & Lander. Até esta sexta-feira.
“É um desejo antigo atuar nesta cidade”, confessa Jonas Lopes ao JN. Um desejo possível com a renovação do aniversariante: o Theatro Circo celebra o 109.º aniversário este domingo e a festa irá acontecer já nesta sexta-feira e no sábado.
“Bate Fado” dá início à comemoração. Quer resgatar uma ideia que se perdeu ao longo dos anos, “até dentro da própria cultura”, conta Jonas, de que “o fado também é dançado”. E ainda que a peça tenha “já três anos de estrada”, para o fadista, bailarino e coreógrafo, a cidade dos arcebispos será como uma estreia.
“Sou amante de artes decorativas e monumentos e Braga está recheada deles, em particular o próprio Theatro Circo”, diz. Além da estética, também a aura eclesiástica é o ingrediente que faltava. “O religioso que existe em Braga está patente no espetáculo, bem como algumas tradições do Minho, por isso, esta é uma produção que se funde com felicidade com a cidade”.
Desconstruir o espaço
O destaque (também, mas não só) dado à dança em dia de aniversário do Theatro não é um acaso. “Interessava-nos explorar um formato diferente daquele que tem acontecido”, diz ao JN Luís Fernandes, novo diretor do Theatro Circo. “É um formato dilatado, de dois dias, que procura refletir a realidade da atividade durante o ano”, revela.
Da dança de “Bate Fado”, às sonoridades trazidas pelo DJ Set de Sandra Baldé, passando pelo pop e jazz de Bruno Pernadas, pela música clássica e até pela cultura infantojuvenil, não há área que fique de fora da festa, pela primeira vez pensada pela nova equipa empossada em meados de 2023.
Sobre a incorporação de elementos típicos da “caçula” cultural, o GNRation, Luís Fernandes diz que não é influência, mas antes consequência do novo modelo – os dois espaços são agora geridos em simultâneo.
“A dimensão infantojuvenil, por exemplo, é um claro marco da nossa equipa e estará ainda mais até ao próximo ano no Theatro Circo”. A trupe de Fernandes mostra que até em idade centenária se pode – e deve – apostar na renovação, sendo o objetivo a “desconstrução de um espaço formal e clássico”.
Festa dupla: Pernadas também celebra
À celebração junta-se a festa de dez anos de “How can we be joyful in a world full of knowledge?”, disco de Bruno Pernadas, que fecha sábado o ciclo de quatro concertos de revisitação.
“É importante este milagre de juntar as duas festas”, assume o músico em declarações ao JN. A expectativa é alta. “A sala está quase esgotada e é um enorme gosto voltar a Braga, onde encontro sempre um público fiel”, resume Bruno Pernadas.
Depois de três concertos de aniversário do disco, ao quarto, Pernadas garante que este será o melhor de todos. “A componente de espaço para improvisação foi melhorando ao longo das atuações e fico até com pena que quem viu o primeiro tenha assistido a algo diferente do que certamente acontecerá no sábado”, admite. Na cidade dos arcebispos, adianta, poderá até ser “mais demorado”, porque “as pessoas não vão estar lá ao acaso”.
Sábado é para as crianças
Para os mais novos, a programação infantojuvenil acontece sábado pela manhã, com uma festa a cargo do Dj Marmota Azul, e, de tarde, com uma Oficina de Criação Colaborativa, que alia música e imagem para trabalhar anseios e inquietações das crianças.
Já ao final da tarde de sábado, a proposta é para o público clássico, com Música de Câmara a cargo do Departamento de Música da Universidade do Minho que apresenta o Ensemble Paesaggi Sonori, sob direção de Vítor Matos.
DJ Umafricana estreia-se em Braga
Depois de assistir ao fado dançado, de pôr os miúdos a mexer e a criar, de ouvir os clássicos e ainda celebrar uma década de um dos álbuns de jazz portugueses mais acarinhados pelo público, o Theatro Circo encerra a celebração dos seus 109 anos com ainda mais festa. Sandra Baldé, conhecida artisticamente como DJ Umafricana, fará as honras de encerramento, às 23 horas (entrada livre).
A guineense nascida e criada em Portugal começou a carreira musical apenas em 2021, mas tem-se destacado no meio, chegando pela primeira vez à cidade de Braga.
Em conversa com o JN, Sandra Baldé explica que tenta "ir acompanhando a composição do público”, fazendo “uma leitura do que as pessoas poderão gostar ou não”, ao mesmo tempo que se mantém fiel à proposta enquanto DJ.
No entanto, Braga será diferente. “Nunca toquei na cidade, nem a conheço bem, não tenho noção do público que vou encontrar e, por isso, sinto que será uma experiência diferente e de construção.” O “trabalho de casa” fá-lo-á no momento, ao sabor do que o ambiente lhe pedir.