Thom Yorke, cantor dos Radiohead edita “Tall tales”, novo disco eletrónico experimental com o produtor Mark Pritchard.
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Poucos artistas serão tão prolíferos e multidimensionais como Thom Yorke. O vocalista dos Radiohead, que nos últimos anos lançou vários excelsos discos – entre bandas sonoras e trabalhos dos The Smile –, editou a 9 de maio “Tall tales", álbum eletrónico experimental cozinhado a dois, desta feita com o conterrâneo Mark Pritchard.
Os músicos já haviam colaborado: o produtor fizera remisturas dos Radiohead, o trabalho estaria a ser preparado desde a pandemia, aprimorado em trocas de ficheiros. A iniciativa terá partido de Pritchard, que vira na permuta de ideias musicais um escape ao confinamento.
Anos depois, com a penumbra pandémica distante, surge um disco que é, ele próprio, um mundo distópico musical e por vezes obscuro, um autêntico filme sem imagem, um labirinto sinuoso guiado pelos ambientes eletrónicos, por vezes robóticos, sempre cinematográficos, e pela voz hipnótica de Yorke – mas com a luz ao fundo, como é também apanágio do cantor.
Em “Tall tales”, há synth-pop, prog, dub, eletrónica, os sintetizadores são constantes, a produção imersiva e etérea, referências notórias dos anos 70 e 80. Os vocais colocam-nos numa abstração quase imediata, e por vezes meditacional, noutras angustiante e sufocante, às vezes catártica e feliz.
Sendo desafiante descortinar as letras, é certo que estão lá as familiares investidas à sociedade: finanças, clima, ansiedade, um cinismo fatalístico, mas não destrutivo.
“Deem-me algo, olhos de TV, uma perda do meu tempo, preciso de atenção”, clama Yorke na galopante “This conversation is missing your voice”.
61 minutos, 12 temas, um turbilhão de ideias, sons, ambientes, emoções cruzadas, e ainda o “input” do artista visual Jonathan Zawada num filme editado em paralelo, completam este disco desconcertante e essencial.