Não soubéssemos em que festival estávamos e a reação do público à atuação de Paulo Furtado, mais conhecido como The Legendary Tigerman, talvez falasse por si. Depois de uma primeira metade amena, foi com “Fix of rock’n’roll” que o público verdadeiramente se conectou ao que no palco se passava.
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Já lá ia meia hora passada em esporádicos braços no ar e um acumular vagaroso de pessoas, quando Tigerman perguntou: “O rock’n’roll é uma coisa bonita, não é?”. Foi das primeiras interações com os festivaleiros, que responderam até em uníssono : “Yes”.
A primeira parte do concerto foi marcada na íntegra pelo mais recente álbum do artista, lançado em 2023, “Zeitgeist”, e que está montado para deixar Paulo Furtado - aguardado quase sempre como animal de palco - como que em segundo plano. Com maior destaque para a cantora Sara Badalo, integrada na banda com esta nova formação, Tigerman deixou-se ficar no seu posto. Pouco interativo, pouco enérgico - o exato comportamento do público.
As canções mais antigas, como “She’s a hellcat” ou “Motorcycle boy”, foram o combustível que levou a temperatura do concerto a ser inversamente proporcional à marcada nos termómetros. O auge, tal como fazia prever o momento com que arrancou este texto, aconteceu ao som de “Twenty first century rock’n’roll”, do álbum “True”, de 2014. Aquela que foi a última música levou a casa já composta - o público não parava de entrar - a gritar “rock!” dezenas de vezes, e cada vez com mais intensidade. O público ainda pareceu ter esperança de conseguir um “encore”, mas sem sucesso. Tigerman saiu de cena com a apoteose.
Antes do concerto, Paulo Furtado tinha conversado com o JN, afirmando “já não crio expectativas”, mas sublinhando a ligação que entende já ter com a casa que o acolheu mais uma vez. “Há alguns festivais que estão mais no coração do que outros e eu gosto de festivais que não são urbanos, que estão integrados na natureza”. O ambiente, que diz ser sempre “muito bom no Norte”, demorou a acolhê-lo, mas depois lá o fez - e com toda a entrega.
A ligação demorada entre público e artista pode ter-se devido à gratuitidade do primeiro dia de Vilar de Mouros. Durante a tarde, já Tigerman admitia que este iria ser um “desafio”, sendo “uma noite mais atípica, sem bilhete, talvez com muitas pessoas que nunca me viram ao vivo”. Desafio superado.
Hoje, o festival de Vilar de Mouros traz “uma crescente de metal”, descreve Paulo Ventura, organizador. O segundo dia arranca com os pioneiros do metal em Portugal, RAMP, a festejar 35 anos. A palco subirão ainda Moonspell e Xutos & Pontapés. As grandes atenções estarão voltadas para Soulfly, banda dos anos 1990, do brasileiro Max Cavalera, depois de abandonar o anterior projeto, Sepultura, e os britânicos The Cult, porta-estandarte gótico do hard rock.