O vocalista dos Xutos & Pontapés apresenta este sábado no Coliseu Porto Ageas o álbum "20-20-20", num espetáculo que recria as diferentes atmosferas da sua gravação.
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Será em três ambientes distintos que o espetáculo de Tim no Coliseu Porto Ageas se irá desenrolar - a praia, o campo e a metrópole, lugares que inspiraram a composição dos temas de "20-20-20", disco que buscou a simplicidade de uma velha marca de tabaco sem filtro, "Três vintes", que se definia lapidarmente: "20 cigarros, 20 gramas, 20 centavos". Proposta direta e honesta, tal como o cantor que chegou aos 60 anos em 2020 e promete continuar na estrada, a solo e com a banda de sempre, os Xutos & Pontapés. A "data gorda" na sala portuense integra-se numa digressão que já passou pela Festa do Avante, Lisboa, Tavira e outras cidades. Em todas elas, o público testemunhou um trabalho construído entre o estúdio caseiro de Tim, algures no Ribatejo, a praia da Zambujeira do Mar e Toronto, no Canadá.
"A sonoridade das canções reflete os diferentes ambientes em que foram criadas", diz o músico ao JN. "A casa no campo deu origem aos temas mais íntimos, a observações do dia a dia. A praia é o lugar mais contemplativo e onde há maior presença da viola acústica. E no Canadá dei largas à veia rock"n"roll para retratar a vivência numa grande cidade".
A unir as três abordagens há um fio de candura que tanto se detém no canto de um mocho como na celebração da amizade e na evocação serena dos que partiram. A atmosfera familiar que rodeou a composição do disco, onde participam os filhos de Tim, Vicente e Sebastião Santos, além dos amigos próximos Moz Carrapa e Nuno Espírito Santo, será transposta para o espetáculo do Coliseu, que se irá dividir num três mais um: os diferentes locais de criação serão recuperados através de projeções, mudanças de cenário e de iluminação; e na parte final haverá o inevitável tributo aos Xutos & Pontapés, com versões acústicas de temas famosos, como "O homem do leme".
Entrar na música
Sobre o modo como a pandemia alterou a fruição dos espetáculos, obrigando a lotações limitadas, distanciamento e utilização de máscara, Tim encontrou um ângulo positivo: "Há uma dimensão de festa e alegria que foi afetada, e creio mesmo que quem mais sofreu com a ausência de espetáculos foi o público, mas dá-me uma certa satisfação perceber, estando no palco ou sentado a assistir a um concerto, que as pessoas passaram a apreciar mais a música. Já não conta tanto a cerveja e dar saltos, mas sim refletir sobre aquilo que se está a ouvir e entrar no espírito da música".
Como tem acontecido nos últimos 20 anos, Tim vai alternando o trabalho a solo, para onde reserva o material mais íntimo, com o da banda, onde é "necessário respeitar o gosto do outro e chegar a um acordo". Assim que acabe a digressão de "20-20-20", será tempo de regressar aos Xutos & Pontapés, que se preparam para lançar novo álbum e espetáculo associado em 2022.
Qual o ambiente no grupo, depois do desaparecimento do seu icónico guitarrista, Zé Pedro, em 2017? "Creio que superámos a fase do luto. Estamos mais velhos e condescendentes com as manias uns dos outros. Acho que o Zé Pedro ia gostar que a banda continuasse, e nós também queremos seguir viagem".
O Porto era estrangeiro em 1986
O cantor recordou alguns concertos míticos na Invicta, como os da antiga Cruz Vermelha, em Massarelos, ou aquele que se realizou no espaço do Teatro Universitário do Porto, junto ao Palácio de Cristal, em 1986, que juntou Xutos & Pontapés e três bandas punks da Galiza: "Nessa época, ir ao Porto era como ir ao estrangeiro. Foi um concerto marcante, onde aconteceu de tudo, falhas de eletricidade, pancadaria, gente a entrar pelo palco". Prevê- -se um ambiente mais recatado para o concerto de hoje no Coliseu.