Ator fala com o JN a propósito de "Crónicas de França", que chega esta quinta-feira às salas.
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O último trabalho do americano Wes Anderson cruza quatro histórias ligadas às memórias do editor de uma revista americana de sucesso, com sede numa pequena cidade francesa. Do elenco de "Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun", que chega hoje às salas portuguesas, faz parte o jovem Timothée Chalamet, de 25 anos. Em entrevista ao JN, o ator explica por que razão fazer este filme "foi um sonho" e de que forma a película - e o jornalismo - podem mudar a vidas das pessoas.
Como recebeu a proposta de entrar no filme do Wes Anderson?
Fiquei muito feliz . Vi o "Rushmore" quando estava no liceu. Foi dos melhores filmes que vi até então. O Wes Anderson é um dos grandes realizadores do momento.
Não ficou desapontado por ter apenas um pequeno papel?
Não o considero um pequeno papel, mas sim um papel inspirador. E tive a oportunidade de contracenar com a Frances McDormand! Como jovem, só posso estar feliz por ter trabalhado com o Wes, ponto final. Ele sabe o que faz. Como ator, foi um sonho.
Sendo jovem, que aspirações tem para este mundo?
Têm-me feito muito essa pergunta. Diria que justiça racial, justiça ambiental, justiça económica, justiça em todas as áreas. No fundo, a nossa geração luta pelas mesmas causas que outras lutaram.
Nesse sentido, tem um ídolo?
Absolutamente. Pessoas como Greta Thunberg e Amanda Gorman, que escreveu o poema para a cerimónia de tomada de posse de Joe Biden na Casa Branca. Foi fantástico. Felizmente, há pessoas a lutar para que as coisas avancem.
Acha que os jornalistas têm um papel muito importante, como mostra o filme?
O filme do Wes Anderson é um tributo ao jornalismo. É uma grande declaração de amor. Costumo dizer que a arte está no olhar do espectador, sobretudo num filme como este, tão cheio de pormenores, com tantas coisas para ver. Sei que há fãs, como eu, que vão prestar atenção a tudo. É um ato de amor à Humanidade, à própria criação artística.
O problema são as "fake news", que distorcem o jornalismo...
Se ser ator em 2021 é diferente de o ter sido noutras épocas é porque há efeitos especiais e avanços tecnológicos. Então, a metáfora diz que ser jornalista hoje é diferente, porque há Facebook e Twitter. No filme vemos o amor do Wes pelo jornalismo. O meu pai é jornalista e o meu respeito pelo jornalismo não pára de crescer.
Como é trabalhar com Wes?
Dou-lhe um exemplo: tivemos de filmar uma cena 40 ou 50 vezes. Havia sempre qualquer coisa que não estava como ele queria. Estava sempre a gritar: "corta!" Atores como Bill Murray já estão habituados ao ritmo dele. Os que chegam de novo, como eu, não querem ficar para trás. Por isso, habituamo-nos rapidamente.
O filme já estava pronto há algum tempo, mas teve de esperar por causa da pandemia.
O atraso foi aborrecido, mas tive prazer em ver o filme em Cannes e assistir à reação das pessoas. Sobretudo sendo metade francês, metade americano, estando em França, sendo o Wes americano e sendo o filme, também, uma declaração de amor a França.
Que reações espera do público?
Espero que goste, como eu gostei. Apesar de ser apenas um filme, pode ajudar as pessoas, porque é arte na sua forma mais bela. Confronta as pessoas com os seus problemas e ajuda-as a lidar com eles.
Que diferença há entre fazer filmes nos EUA e na Europa?
É muito diferente. Passei três anos na Europa, filmei "The king" e "Dune" na Hungria. Mas depois filmei o "Não olhem para cima" em Boston e não imagino fazer um filme assim na Europa.