Sobe esta sexta-feira ao palco do Teatro Aveirense o novo espetáculo de dança de Victor Hugo Pontes “Há qualquer coisa prestes a acontecer”.
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O que vem depois de 50 anos de liberdade? Qual o caminho a trilhar para que as amarras não retornem? É ancorada nessas questões, e num lugar entre o passado e o futuro, que estreia esta sexta-feira, às 21.30 horas, no Teatro Aveirense, em Aveiro, a nova criação do coreógrafo Victor Hugo Pontes, “Há qualquer coisa prestes a acontecer”.
Livres de correntes, 19 corpos nus sobem ao palco e são, eles mesmos, todos nós – e o que nos assusta, transforma e move. Mas sempre com uma força que impele a seguir em frente, conduzida pela dança contemporânea e pela fúria.
Não há palavras de ordem nem gritos de revolta, ou de luta. O público não é, em qualquer momento, confrontado com alusões imediatas ao estado do “agora”. Mas os corpos despidos, às vezes amontoados, como se suportados uns pelos outros, mostram o lado racional – e não primitivo – do ser humano, fora do perigo a que o Mundo condena, solto de barreiras impostas pelo interior de cada um.
Convida-se à reflexão constante. Ali, as figuras humanas tanto se fundem como, de seguida, se enfrentam, ferozes, guiadas pela música, numa massa coletiva que se dispersa e volta a unir, uma e outra vez.
Victor Hugo Pontes mergulhou em “Inquietação”, de José Mário Branco, e, quando emergiu, inspirado pela liberdade absoluta que diz ter sentido, começou a criar aquilo que viria a ser “Há qualquer coisa prestes a acontecer”.
O coreógrafo fez audições a mais de 300 candidatos, escolheu 70 e, no fim, elegeu 15, que viriam a integrar um elenco de 19 intérpretes – dois dos quais estagiários –, de várias nacionalidades, ainda que maioritariamente portugueses.
Coprodução com o Teatro Aveirense, o espetáculo, que estreia no âmbito de Aveiro 2024 – Capital Portuguesa da Cultura, é liberdade. A liberdade que o país já tem há cinco décadas, mas que carece urgentemente de preservação.