Os diálogos inanes de boa parte dos filmes de hoje fazem-nos suspirar por uma época em que, no cinema, o silêncio era de ouro. De Buster Keaton a Fritz Lang, de Charlie Chaplin a Georges Méliès, eis cinco obras primas do cinema mudo.
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No princípio não era o verbo.
Pelo menos no cinema. O que não era forçosamente empobrecedor, ao enfatizar não só a importância da banda-sonora como das próprias expressões dos atores.
Todos esses predicados estão bem evidentes no filme "Um cão andaluz", realizado por Luis Buñuel corria o ano de 1929. Apogeu do surrealismo cinematográfico, a película inibe-se de seguir a lógica narrativa tradicional, investindo antes numa sucessão de imagens oníricas que dispensam o uso da razão.
Da imortal cena inicial, em que um olho feminino é cortado por uma navalha, às formigas que 'nascem' da mão de um atónito jovem, todo o filme é uma ode ao sonho e à ausência de sentido.
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Só por ignorância absoluta podemos considerar que as grandes produções cinematográficas são um exclusivo do nosso tempo. Se fosse realizado hoje, "Metropolis" levaria qualquer estúdio à falência. Valha a verdade, foi o que aconteceu na sua época, quando as exigências constantes de Fritz Lang colocaram a indústria cinematográfica próxima do colapso.
Para enfatizar a ideia de desumanização e do risco do embrutecimento perante a máquina, o cineasta construiu uma história tortuosa e por vezes contraditória, mas que continua a ser altamente recomendável pelo poderio visual que dela emana.
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Há 119 anos, Georges Méliès não só sonhava com a viagem do Homem à lua como a filmava. Foi o primeiro a fazê-lo, valendo-se não apenas do domínio do cinematógrafo como dos truques de prestidigitação (era ilusionista) de que era capaz.
Sem esconder as influências dos livros de Jules Verne e H. G. Wells, Méliès concretizou um filme precursor a vários níveis. Da ficção científica, antes de mais, e também do argumento (foi o primeiro com um 'storyboard').
A música de David Short e do Billi Brass Quintet acentua o caráter lúdico de um filme frequentemente incluído na lista dos mais marcantes de sempre.
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Nem o desastroso título escolhido para português ("Pamplinas maquinista"), ofusca os méritos de "The General", um dos mais geniais filmes do não menos genial Buster Keaton. O insuspeito Orson Welles considerou-o mesmo "a maior comédia alguma vez feita, o melhor filme sobre a Guerra Civil jamais realizado, e talvez o melhor filme de sempre
Tímido e trapalhão, o protagonista da história vê os seus esforços para alistar-se na guerra serem recusados, mas, quando a sua amada é alvo de um rapto, reúne toda a sua coragem para conseguir recuperá-la.
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É impossível eleger uma lista de filmes emblemáticos do cinema mudo sem que se faça uma referência a Charlie Chaplin.
Vários filmes do popular Charlot teriam cabimento na lista, mas "Tempos modernos" mantém um encanto especial.
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Produzido, realizado, escrito e protagonizado por Chaplin em 1936, o filme é particularmente eficaz no modo como denuncia os maus tratos aos operários das linhas de montagem, ao mesmo tempo que sublinha as iniquidades de um sistema que abandona os já de si desfavorecidos. Um filme para a eternidade.