Estreia esta quinta-feira nas salas o filme de estreia da jovem lituana Saule Bliuvaite, Leopardo de Ouro de Locarno.
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Quando uma primeira longa-metragem de uma jovem realizadora de 30 anos, vinda da Lituânia, ganha o Leopardo de Ouro de Locarno, o prémio mais importante de um dos eventos mais exigentes e prestigiados do circuito de festivais, ficamos com a certeza que o presente e o futuro do cinema estão assegurados.
O filme em causa chama-se "Tóxico", foi escrito e realizado por Saule Bliuvaite e chega hoje aos cinemas. Cabe agora ao espetador procurar bem este filme e dar também o seu contributo para que este cinema, independente e de autor, possa continuar a chegar às salas.
O filme tem como protagonistas duas jovens, mesmo no início da adolescência, que criam uma relação de forte cumplicidade quando se conhecem numa escola de modelos, onde se inscreveram para tentar escapar à existência pouco mais que miserável a que estavam destinadas, nos subúrbios de uma grande cidade.
Apesar da situação se desenrolar na atualidade, o projeto começou como uma reflexão da própria realizadora sobre uma realidade que conhecera quando tinha aquela idade. Mas, ao falar com várias jovens de hoje, nomeadamente para escolher as suas atrizes principais, foi compreendendo que pouco tinha mudado e que as razões sociais e psicológicas para os comportamentos que descreve são ainda hoje válidas. Ou mesmo mais gravosas, dada a influência das redes sociais nos comportamentos dos mais novos.
O filme, com o seu dispositivo formal original, sobretudo na sua dimensão fotográfica, é assim um olhar muito negro sobre a forma como a sociedade e os seus mais diversos mecanismos condicionam a relação que os mais jovens, sobretudo do sexo feminino, têm com o seu próprio corpo, e a disposição para o modelar em função dos modelos que lhes são servidos. Mas é também um aleta para as condições sociais de um país jovem, saído da dominação soviética, e que tem de olhar para todos, para construir o seu futuro.