As pessoas que sejam surdas e queiram visitar a Capital Europeia da Cultura já têm uma intérprete à disposição. Chama-se Felícia Peixoto e é surda, mas voluntaria-se para colmatar dificuldades de comunicação, através da língua gestual. Assim, todos fazem parte.
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Na chegada à Câmara Municipal de Guimarães, onde trabalha, Felícia Peixoto cumprimenta os colegas com um simpático "boa tarde". Com isto explica a quem pergunta que "a surdez não implica ser mudo" e são poucos, aliás, os surdos-mudos do país.
A oralidade de Felícia é quase perfeita e os seus colegas de trabalho percebem-na com facilidade. Através da língua gestual, espera que os visitantes surdos da CEC também a percebam. O objetivo é que todos possam fazer parte da grande festa cultural que Guimarães acolhe neste ano.
"Eu só quero facilitar a estadia dos surdos que vierem visitar Guimarães neste ano, pois existe uma barreira comunicativa entre um visitante surdo e as pessoas da cidade", afirma. Felícia está consciente de que "a comunidade surda portuguesa não tem noção da importância e do que se trata quando uma cidade portuguesa é Capital Europeia da Cultura".
A ideia de servir de intérprete aos visitantes surdos da CEC foi proposta por Felícia Peixoto à Câmara de Guimarães, que desde logo a acolheu com interesse. Sempre que algum surdo visite a cidade neste ano e peça ajuda, informa-se a Autarquia. Esta, por sua vez, dispensa Felícia dos seus serviços no departamento de recursos humanos, onde trabalha.
O gesto voluntário também foi participado pela própria Felícia à Fundação Cidade de Guimarães, organizadora da CEC, uma vez que a organização também pode vir a ser contactada "por pessoas da comunidade surda a precisar de ajuda quando chegarem a Guimarães". Assim, a intérprete pode ajudar a que todos façam parte do evento, indicando restaurantes, bares, monumentos e espetáculos a não perder. Isto sempre através da língua gestual, e não linguagem gestual, como faz questão de esclarecer.
Aos 48 anos, apesar de ser natural da Trofa, Felícia reside em Creixomil, no concelho de Guimarães, e conhece bem a cidade onde mora com o marido e dois filhos. Para ela, a CEC tem "uma importância sem igual", uma vez que é "uma oportunidade única para a cidade se afirmar no panorama cultural e não só, quer em Portugal quer na Europa", afirma.
Diz ainda que gostava "que existissem mais intérpretes ou legendas nas reportagens de televisão da Capital Europeia da Cultura". O lema "Tu fazes parte" ganha uma abrangência maior com gestos voluntários como o de Felícia, no ano cultural que já começou, na cidade cultural que espera acolher 1,5 milhões de visitantes neste ano.