"Hécuba", a tragédia anti-bélica de Eurípedes, sobe quinta feira ao palco do Teatro São Luiz em Lisboa. A encenação é de Fernanda Lapa.
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"Consideramos este espetáculo um libelo contra a guerra e dedicamo-lo a todas as mulheres que por esse mundo fora vivem, por esse motivo, um sofrimento desmedido", diz a encenadora.
Na tragédia de Eurípides, Hécuba surge sozinha, no meio da destruição provocada pela guerra de Tróia, perdida nas ruinas do reino que viu nascer. Sem justificação coerente, sem preparação, vê partir aqueles que mais ama: o marido Príamo com quem viveu toda a vida, a filha Polixena sacrificada às mãos do inimigo, o filho Polidoro morto à traição, e todos os outros filhos que gerou.
"Os senhores da guerra, sujeitando-a a um sofrimento desmedido, transforman-na de um ser humano justo numa "cadela vingadora de olhos de fogo". A violência gera violencia e o sofrimento em excesso a degradação. Ontem como hoje", escreve Fernanda Lapa no texto de introdução à peça.
Hécuba personifica a mãe, a fertilidade, como uma grande incubadora que prepara vidas, que prepara o futuro testando assim a própria mortalidade.
"No entanto, toda esta esperança de vida é destruída pela crueldade dessa mesma vida".
Dando resposta às inquietações e interrogações que a peça suscita, o cenógrafo e figurinista António Lagarto propôs um espaço cénico de grande sobriedade e grafismo".
O acampamento que acolhe estas mulheres da peça de Eurípedes, que também podem ser vistas como as prisioneiras de guerra em qualquer local do mundo, no passado e no presente, António Lagarto diz querer "evidenciar a clausura claustrofóbica em que elas se encontram, tudo isto atravessado por um raio de luz de uma falsa esperança". Independentemente de tudo, acrescenta, "os figurinos apresentam uma contemporaneidade intemporal".
Esta co-produção da Escola de Mulheres e do Teatro São Luiz conta com Carla Galvão, no papel da protagonista Hécuba. Do restante elenco fazem, entre outros, Margarida Cardeal, Filomena Cautela, Nuna Livhaber, Fernanda Lapa e Luís Gaspar (que faz de Ulisses).
A peça fica em cena até 17 de maio.