Quinta edição da mostra de artes começa a 17 de abril e leva, até 11 de maio, espetáculos, oficinas, performances e conversas a vários espaços da Margem Sul.
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Em Almada, as artes performativas recuperam protagonismo. A 5.ª Edição da Transborda acontece entre 17 de abril e 11 de maio e leva espetáculos, laboratórios, performances e conversas – bem como coreógrafos de renome e de excelência – a Almada, num formato voltado para o contacto, o intercâmbio, a investigação e a qualificação artística.
Este ano, a Mostra Internacional de Artes Performativas de Almada tem como mote a aposta na “convivência entre diferentes culturas, partilha de afetos e escuta ativa e empática”, tudo como forma “de ativar novos mundos possíveis”.
Ao JN Adriana Grechi, co-diretora artística da Transborda, fala deste conceito e de como se expressa na programação. “Nesta quinta edição procurámos dar enfoque à experiência coletiva e trazemos alguns trabalhos elaborados com muitos colaboradores. O coreógrafo Cristian Duarte vem de São Paulo para apresentar ‘E nunca as minhas mãos estão vazias’ com o seu grupo ‘em Companhia’, formado por nove bailarinos criadores. O artista André Uerba selecionará quatro performers locais para trabalhar com sua equipa de Berlim na recriação de ‘Æffective Choreography’. E ‘Danser la ville’, do coreógrafo de Marraquexe Taoufiq Izeddiou, será criado com 30 performers locais e apresentado no Largo do Farol de Cacilhas”, enumera.
Para a também coreógrafa, a novidade deste ano são portanto “as colaborações, que envolvem a participação de muitos bailarinos, como forma de ativar vitalidades e afetos através da dança”, resume.
Contacto direto com o público
Segundo a co-diretora artística, durante as três semanas de mostra, há muito tempo para o público – outro foco da Transborda –, conviver e acompanhar todos os espetáculos, performances e conversas. “São apenas oito apresentações de seis trabalhos, mas cada um deles com características muito singulares”, convida.
E destaca: “Dois espetáculos bem especiais serão apresentados na Sala Principal do Teatro Municipal Joaquim Benite: ‘L´Envol’ da coreógrafa Nacera Belaza, onde os corpos estão em permanente estado de queda, gerando uma enorme sensação de liberdade; e ‘E nunca as minhas mãos estão vazias’ de Cristian Duarte que traz uma intensa vitalidade coletiva diante de ambientes devastados e de violências diversas”.
Para a organização, o objetivo a cada evento é “que diferentes públicos se relacionem cada vez mais com a mostra”. Adriana Grechi lembra como, “a cada ano, procuramos reunir pessoas de diferentes culturas, formações, gerações e condições sociais em torno de trabalhos de coreógrafos internacionais que questionam o mundo contemporâneo”.
Nesta 5.ª edição em particular, “buscamos ampliar ainda mais o acesso às artes performativas em Almada, com a entrada livre no Largo do Farol de Cacilhas, ou bilhetes acessíveis no FMRC (Fórum Municipal Romeu Correia) e no TMJB (Teatro Municipal Joaquim Benite)”, salienta.
Nesta edição, a Sala Principal do Teatro Municipal Joaquim Benite recebe dois espetáculos de intensa fisicalidade: os já referidos “E nunca as minhas mãos ficam vazias”, a nova criação de Cristian Duarte, cujo título é inspirado num verso do poema “Apesar das ruínas de Sophia de Mello Breyner; e “L´Envol”, da premiada coreógrafa franco-argelina Nacera Belaza, que propõe, em aparente contradição, uma dança que mantém o corpo em estado de queda, na ausência de resistência, na possibilidade de abolir o medo e acolher aquilo que mais tememos.
A 5.ª Edição da Transborda apoia também coreógrafos que regressam a Portugal: Maria João Costa Espinho apresenta “Uivo” no Fórum Municipal Romeu Correia, uma performance multidisciplinar que reflete sobre liberdade, resistência e transformação, através da experiência do corpo; e André Uerba recria “Æffective Choreography”, no TMJB, com performers locais e em colaboração com a Fundação Serralves, num trabalho que investiga estruturas, políticas e práticas de intimidade.
Na Sala Experimental do TMJB, a coreógrafa grega Katerina Andreou apresenta “Mourn baby mourn”, uma peça coreográfica e sonora, motivada pela necessidade, que assenta numa tradição que considera a lamentação como um assunto de mulheres e como uma forma de expressão de emoções individuais e coletivas. No Largo do Farol de Cacilhas, o coreógrafo marroquino Taoufiq Izeddiou dirige “Danser la Ville”, a peça com 30 performers locais, ou uma experiência de transe libertador, “um convite a soltar, por momentos, o peso do mundo”, refere a organização.
A programação deste ano conta ainda com um laboratório conduzido por Nacera Belaza, onde partilha as suas investigações, e com conversas com artistas, após os espetáculos, mediadas pelo crítico Ruy Filho, proporcionando momentos de reflexão e troca de ideias.
Para Adriana Grechi, explicar a Transborda a quem ainda não conhece é falar uma mostra que transborda fronteiras: entre diferentes culturas, entre diferentes áreas artísticas, entre diferentes públicos, entre as margens do rio Tejo. “A Transborda é um lugar de encontro, de partilha, de afetos e de experimentação artística. Um lugar que proporciona tempo e acesso para pessoas conviverem e se relacionarem a partir de obras artísticas. Um lugar onde é possível encontrar trabalhos de artes performativas que propõem outras perceções e modos do corpo operar no mundo contemporâneo”, conclui.