Travis Scott em Lisboa para primeiro dia de maré de fãs que sonha ser chamada ao palco 

Os irmãos Mariana, Christian e Gonçalo Calder, de 18 e 15 anos, não deixam dúvidas sobre ao que vêm. Exibem cartazes e uma t-shirt branca pintada à mão com o nome da digressão de Travis Scott ("Circus Maximus"), que dá esta sexta-feira, 2 de agosto, o primeiro de três concertos em Portugal e que finalizam a tourné europeia.

"Estamos aqui desde as cinco da manhã porque queremos ficar à frente para sermos chamados ao palco", diz Mariana, que levou uma hora a pintar cada camisola e até se preparou a rigor e passou pomada anti-inflamatória nas costas, como quem se prepara para os saltos que todos sonham.

As cerca de 20 mil pessoas esperadas neste primeiro dia de concerto, na Meo Arena, em Lisboa, trazem água, bebidas energéticas, poucas malas, calções de bolsos fechados "para evitar os pequenos furtos" e muita vontade de saltar e de ouvir o êxito mais entoado nesta tourné, "FE!N", cantada cinco vezes em Espanha e oito em Milão. Aqui pedem-se sete, oito e até "12 vezes", diz Rita, de 15 anos.

Preferências diferentes têm Eric Ioong e Richar Gbamon, que traz as imaculadas tranças que fazem lembrar o produtor norte-americano. Os dois amigos vêm de Stavanger, Noruega, e viram todos os concertos de Travis Scott desta digressão europeia. "Vamos ver os últimos três concertos de Lisboa também", avisam. Por isso, já não se comovem tanto diante da música do momento, que dizem já ter escutado "pelo menos 100 vezes". Ainda assim, o que move Richard é ver em palco "um ícone inspirador".

60 mil pessoas em três dias

Do outro lado do Pavilhão Atlântico, a fila para a plateia é igualmente gigante, mas começou mais cedo, pelas 20.35 horas da véspera, quando David, de 22 anos, vindo de Coimbra, começou a numerar um esquema em grupos para não haver injustiças. Pelas cinco da manha, juntou-se Manuel, vindo da Galiza, Espanha. "Dormimos cá fora, tivemos frio", contou. Revezaram-se para ir buscar comida e água, para não perderem o primeiro lugar da fila e ver se conseguem "ser chamados ao palco" do cantor de 33 anos, que está de regresso a Portugal, onde se estima que o esperem 60 mil pessoas em três dias.

Inês e Guilherme, de 16 anos, Maria Clara e Frederico, de 14, João, de 15, chegaram da Ilha Terceira, Açores, esta manhã de sexta-feira, para verem a estrela de Houston. "A mãe veio connosco, ela não está aqui agora, foi dar uma volta por aí", diz Guilherme, bem-disposto. "Queremos ganhar à Itália, espero que ele cante o dobro das vezes do que cantou lá", pede o jovem, ansioso por um espetáculo que promete efeitos luminosos, muita tecnologia, pirotecnia e, talvez, alguma sensação de abalo sísmico, repercutindo sensação semelhante à registada em Milão, a 23 de julho.

A partir do palco, esperam-se 30 temas, não só êxitos da carreira como “Sicko Mode”, “Goosebumps” ou “Highest in the Room”, mas também as quase duas dezenas de músicas do aclamado álbum “Utopia”, de 2023, entre eles o “My Eyes”.

Neste tema, o rapper reconheceu, em entrevista concedida em novembro, ter escrito um verso em homenagem às dez vítimas de esmagamento durante um espetáculo seu no festival Festival Astroworld, a 5 de novembro de 2021, no sobrelotado NRG Park, em Houston, Texas. "Repito essas noites, e bem ao meu lado, tudo o que vejo é um mar de pessoas que andam comigo. / Se eles soubessem o que Scotty faria para saltar do palco e salvar uma criança”, canta Travis no tema.

Neste primeiro dia, a PSP afirma nao ter tomado medidas excecionais para este evento em particular. Fonte policial aponta para uma noite de espetáculo "a ocorrer dentro da regularidade", com seguranças e "elementos à paisana no interior". "Não há indicações da presença de grupos que possam vir de propósito para causar problemas", adianta o agente, enquanto caminha ao longo da fila de fãs. O segundo concerto acontece este sábado, 3 de agosto, e o terceiro no domingo, 4, também na Meo Arena.

Um euro por cada bilhete reverte para organização solidária

Recorde-se que, por cada bilhete vendido, um euro será doado à organização norte-americana sem fins lucrativos "Cactus Jack Foundation", cuja missão é apoiar os jovens de Houston através de campanhas de angariação de brinquedos, programas de bolsas de estudo para estudantes universitários e cobrir despesas relacionadas à educação e projetos criativos.

Esta é a terceira vez que o rapper, que já produziu para nomes como Kanye West, Rihanna ou Drake, vem a Portugal, tendo-se estreado em território nacional em 2018, numa atuação no Super Bock Super Rock, em Lisboa, e no verão de 2023, no festival Rolling Loud, em Portimão.

Concluída a tourné europeia, Travis Scott, segue para a América Latina, com passagem marcada para Chile, Argentina, Brasil, Porto Rico e México, com todos os espetáculos marcados para setembro.