O quarto dia do festival Tremor foi o primeiro que começou cheio de sol e foi enegrecendo, enegrecendo assim com as notícias que iam chegando. O ataque ao Crocus City Hall tornou-se conversa recorrente, mesmo entre os participantes do festival que estão neste paraíso atlântico.
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Comecemos pelo fim, as Lambrini Girls, três loiras chegadas de Manchester até às Portas do Mar, em Ponta Delgada, e têm do princípio ao fim do concerto toda uma agenda. "O governo delas é uma merda, apenas 8% dos casos de assédio sexual em Inglaterra chegam a algum sítio", portanto incitam todos a denunciar. Instigam também ao fim da misoginia, do patriarcado e da homofobia. E como não têm papas na língua gritam e obrigam a gritar "Libertem a Palestina".
Aqui não há intenções escondidas, ideias subtis ou meias palavras, é música para tragar em estado bruto. Não é isso que faz o punk? Nem sempre. Nesta nova geração do punk revival, há um cuidado na performance e a vocalista Phoebe faz os jogos todos, divide o público ao meio, faz as rodas de mosh, stage dive, obriga o público a descer e a saltar, a gritar a fazer "o dedo do meio", despe-se e é uma animadora de cada canção. Mas a receita resulta divertida. "Help me, I´m gay", "Lads, Lads, lads" e "Boys in the band" foram alguns dos grandes momentos do concerto.
Punk de Detroit numa pedreira nos Açores
Nesta dose punk, o Tremor na Estufa levou os festivaleiros até a Pedreira Marques, um inóspito cenário de altas paredes de basalto, para ouvir bem abrigados numa casotinha os Poison Ruin. A banda de Detroit teve uma performance incendiária e também uma linha de fuga. Um transporte para um plano emocional diferente, com guitarras frenéticas e riffs vertiginosos.
O único senão deste concerto foi a ventania que se levantou, obrigando o público a usar óculos e ter a boca fechada para evitar areias nos dentes.
Em notas menores estiveram Cole Mice e o seu instropectivo concerto no Teatro Micaelense. Bem como Poil Leda que junta a japonesa Junko Lleda, interessante contadora de histórias, não tanto como cantora, e os Poil com o seu rock cósmico que no instrumental tem uma coerência harmoniosa. Este concerto foi exacerbado pela assombrosa ambiência do Coliseu Micaelense. ,
Outra das bandas queridas, deste quarto dia do festival Tremor, foram os Glockenwise, que deram um concerto muito procurado nas Portas do Mar. Temas como "Gótico português" e "Margem" mostram a devoção dos portugueses ao grupo de Barcelos, dado saberem as letras todas. E a letra tem ainda mais sentido neste festival ao qual vieram pela primeira vez há dez anos. Vieste ao sítio certo/Toda a gente se respeita/Cada um com a sua seita/ Ninguém fica descoberto/ E aqui ninguém se espanta/Se qualquer gente canta". Neste contexto parece que lhe é dedicado.