Parceria com a Zet Gallery e APAV destaca carreira da artista brasileira Zélia Mendonça.
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Bijuteria, alfinetes, pedaços de crochet ou restos de tecido. São estes materiais que apelam ao “saber fazer doméstico”, ainda hoje socialmente associado às mulheres, que compõem as obras de Zélia Mendonça, refletindo sobre a vivência da violência. “Segunda instância: estórias de violência, abandono e perdão” é uma exposição patente a partir de hoje no Tribunal da Relação de Guimarães, de entrada gratuita.
A mostra, uma parceria entre este equipamento judicial, a galeria de arte bracarense Zet Gallery e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), engloba 25 obras referentes aos dez últimos anos da carreira da artista brasileira. Dois dos trabalhos mais recentes, "Eco de resiliência" e "A caça" estão em estreia absoluta, tendo sido resultado de uma residência numa casa-abrigo.
Zélia Mendonça partilhou um dia da vida das mulheres acolhidas num dos abrigos da APAV e inspirou-se nesse ambiente para as novas criações. “A experiência na casa-abrigo foi especialmente marcante porque me deu uma visão mais clara da resistência e da resiliência dessas mulheres”, conta ao JN a artista.
Um dos trabalhos contou mesmo com a participação das pessoas acolhidas pela associação, garantido Zélia Mendonça que “a arte é, sem dúvida, um meio poderoso de expressar o que muitas vezes é difícil de verbalizar”. “No contacto com as mulheres da casa-abrigo, percebi que a arte oferece a oportunidade de transitar de um estado de dor e sofrimento para um lugar de reflexão e, até mesmo, de cura.”
O tema da violência contra a mulher nas mais variadas formas é recorrente no trabalho da artista, tendo sempre “em comum o compromisso com questões sociais” que considera urgentes. A exposição patente no Tribunal da Relação de Guimarães pretende “gerar uma reflexão” e “despertar uma consciência coletiva”.
Da receita proveniente da venda dos trabalhos expostos, 10% reverte para a APAV, que comemora 35 anos de existência. É possível visitar “Segunda instância: estórias de violência, abandono e perdão” até 15 de julho.