Festival encerrou com enchente recorde: 25 mil almas no recinto do Alto Minho. Ao longo dos quatro dias foram 70 mil. Registaram-se também, na noite de sábado, alguns dos melhores espetáculos desta edição: James, Ornatos Violeta e Peaches.
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Um furacão chamado Peaches e a empatia infinita de James e Ornatos Violeta marcaram o fim do Vilar de Mouros 2023. Foi um ano de recordes: 25 mil pessoas na última noite, 70 mil no total dos quatro dias. O formato alargado vai manter-se para o ano, quando o festival regressar ao Alto Minho, dias 21, 22, 23 e 24 de agosto. Foi também um ano de transição, com a aposta em sonoridades pouco habituais neste certame, como as de Pendulum ou The Bloody Beetroots. A ideia será atrair os mais novos sem afugentar os mais velhos. E, sobretudo, sem quebrar irremediavelmente o elo com a tradição de Vilar de Mouros. É um equilíbrio difícil. E o cartaz da próxima edição será decisivo para compreender qual o caminho escolhido.
Uma coisa ficou já clara: para suportar os números deste ano terá de haver um reforço significativo das infraestruturas, do recinto ao campismo, dos acessos à área da restauração. Ou repetir-se-á o caos na entrada e as filas de 100 metros para comer um cachorro ou uma sanduíche de pernil. Além do calvário da saída, com engarrafamentos a durarem mais de duas horas em caminhos estreitíssimos onde passam pessoas e automóveis.
Outra coisa a rever, para que a galinha dos ovos de ouro não desapareça, será o preço das cervejas: cinco euros pela primeira (que inclui o copo) e quatro pelas seguintes (se não se perder o copo). É um rotundo exagero. Portugal não ficou subitamente um país rico, ou o JN teria dado a notícia.
Nos concertos finais, destaque para a performance poliédrica de Peaches, canadiana que transporta o fogo do “electroclash”. Mudou de figurino constantemente (e de número de seios), rebolou por entre o público, fez ativismo trans e pró-aborto, ameaçou interromper o concerto por causa dos telemóveis (vénia), cantou “Fuck the pain away” e terminou com uma versão límpida e dorida de “Private dancer”, de Tina Turner.
Antes de James, atuaram ainda os Guano Apes, banda que parece essencialmente inútil fora da zona de êxitos como “Open your eyes” ou a cover de “Big in Japan”, dos Alphaville. Já a banda liderada por Tim Booth praticamente não tem uma zona fora de êxitos - sucedem-se os clássicos, de “Sit down” a “Sometimes”, de “Say something” a “The sound”. Em Vilar de Mouros, os James deram continuidade à sua longa história de amor com Portugal: romance que já leva mais de 40 “dates”.
Também sem zona fora de êxitos - e será ainda mais rigoroso dizer sem zona fora de grandes canções - estão os Ornatos Violeta, que evocaram, em vários momentos do concerto, o teclista Elísio Donas, membro da banda falecido em maio deste ano. Todos em Vilar de Mouros, dos avós aos netos, trauteiam uma parte ou outra de “Chaga”, “Dia mau”, “Punk moda funk” ou “A dama do sinal”. Mas o que se viu na interpretação de “Ouvi dizer” está ao alcance de poucos: a canção é quase um ícone de identidade nacional, acompanhado palavra a palavra pelos 25 mil que encheram o festival.