"Tumulus" é a nova criação de François Chaignaud que chega ao Porto no dia 16
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"Quando estamos a atuar somos sobrenaturais, há um efeito de inconsciência como se estivesses num outro estado", contou o coreógrafo francês François Chaignaud, ao JN. Quando se viu do lado de fora da cena, a sua capacidade analítica dobrou e tornou-se extremamente consciente e desperto do que lhe faltava. Nesse estado criou "Tumulus", com o compositor Geoffroy Jourdain, que se apresenta hoje e amanhã, na Culturgest, em Lisboa e nos dias 17 e 18, no Teatro Rivoli, no Porto.
O processo levou dois anos a ser construído, sempre com a ambição de ver uma transformação física nos intérpretes. Na obra há uma ligação latente com os rituais de morte e Chaignaud explica que, para um bailarino, essa relação é bastante óbvia. "Apesar de não existir nada de macabro no que estamos a apresentar, todos os bailarinos são conscientes dos processos de envelhecimento. As nossas células estão a envelhecer e vão morrer. Mas há algo de muito poético nesse processo, uma forma refinada na nossa relação com a morte", conta.
Ao pôr em cena esta ideia, construiu um monte maciço, onde os intérpretes vão arrastando compassadamente os pés, quase que a lembrar os rituais de uma procissão de Semana Santa, em que qualquer falha nesta marcha pode determinar uma falência. Um mergulho para a morte.
O canto coral dos 13 intérpretes, com repertório do século XVI, confere uma atmosfera espetral à cena, que apesar de ser lúgubre não é pungitiva, mas acaba por funcionar como uma exaltação da vida.
Esta é a segunda apresentação de François Chaignaud em Portugal, este ano, depois de ter coreografado para a companhia Dançando com a Diferença, espetáculo que foi programado no GUIdance, em Guimarães. As suas coreografias - como o inesquecível "Romances inciertos"- têm estado bastante presentes no nosso país nos últimos anos, algo que se deve às autoestradas culturais que têm estado abertas entre os dois países, sendo Tiago Rodrigues, em Avignon, e Tiago Guedes, em Lyon, as suas facetas mais visíveis.