Trabalho final do quarteto de Filadélfia, que anunciou há pouco a sua extinção, atinge um complexo equilíbrio entre os desvarios experimentalistas e a simplicidade melódica.
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“Nicks and grazes” é o legado final de uma banda que no mês passado anunciou a sua extinção. Antes de desaparecer, os Palm deixaram-nos um álbum de noise-art, neo-psicadélico e sem preconceitos, que tanto debita a distorção violenta do metal como a repetição industrial da eletrónica, ou ainda as vocalizações tranquilas do folk. É uma excitação contida que reúne o melhor de vários mundos.
É um álbum que à primeira audição talvez não seja fácil de compreender. Ostenta várias camadas, aparentemente desconexas ou até flagrantemente opostas. Todavia, para além do aparente caos, é possível encontrar uma ordem e um propósito que merecem bem um esforço para serem absorvidos. Quando bem processadas e descodificadas, as camadas conflituantes desabrocham num produto final complexo e original, umas vezes desconcertante, outras reconfortante, quase sempre inesperado.
Os Palm surgiram em 2012 por iniciativa de quatro alunos da Universidade de Bard, em Nova Iorque. Aos guitarristas e vocalistas Eve Alpert e Kasra Kurt juntaram-se o baixista Gerasimos Livitsanos e o baterista Hugo Stanley. Após a faculdade, o grupo assentou arraiais em Filadélfia. Graças a ritmos movediços, encimados por vozes sussurrantes e melódicas, quebradas por explosões de distorção, ruído e até espanta-espíritos, não demorou muito até a banda conseguir furar o anonimato e captar a atenção mediática – em 2017 foi mesmo considerada uma das “mais promissoras e ambiciosas” da cena art-rock pelo diário “The New York Times”.
Ao terceiro disco, os Palm fizeram jus às altas expectativas e atingiram o zénite com um complexo equilíbrio entre os desvarios experimentalistas e a simplicidade melódica. A banda continua sem amarras, mas aprendeu a refrear os ânimos quando está prestes a entrar em excessos redundantes e extravagantes. Há como que uma euforia contida que concilia o melhor de vários mundos.
Mas, o esforço para atingir este “ponto ótimo” terá sido demasiado para o grupo. Em junho, a banda anunciou o fim e as datas de seis derradeiros concertos.