Curta-metragem com Ivo Canelas e Gaya de Medeiros conta história do encontro entre uma mulher trans e um homem cis na noite de Lisboa. É a única produção nacional na lista prévia dos prémios de Hollywood.
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Já distinguida com 17 prémios, a curta-metragem portuguesa “Um caroço de abacate” está na antecâmara dos Oscars. O filme realizado por Ary Zara é um dos 15 candidatos às nomeações na sua categoria, revelou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
A atriz Gaya de Medeiros e o ator Ivo Canelas interpretam os papéis principais de um filme que se centra num encontro entre “Larissa, uma mulher trans e Cláudio, um homem cis”, numa noite lisboeta.
“É uma história muito simples, livre de violência e de morte, e a pensar em novas possibilidades para pessoas trans”, explicou à Lusa o realizador, que se mostra surpreendido com a receção ao filme. “Daqui para a frente é continuar a acreditar que sim, que é possível conseguir levar o filme assim bastante longe”.
Com produção de Andreia Nunes e Frederico Serra, “Um caroço de abacate” viu na semana passada o ator trans Elliot Page, em conjunto com Matt Jordan Smith e Tuck Dowrey da sua produtora Pageboy Productions, entrar na equipa como produtor executivo, o que contribuiu para aumentar a notoriedade da curta.
Um percurso vencedor
Quer transite ou não para o lote final de cinco candidatos que vão disputar a estatueta dourada, o filme produzido pela Take It Easy já protagonizou um caminho vencedor. Além dos três prémios conquistados no IndieLisboa, ”Um caroço de abacate” foi distinguido em festivais norte-americanos, canadianos, mexicanos ou indianos. Mas foi em França, no prestigiado Festival de Clermont-Ferrand, que a curta-metragem obteve o maior reconhecimento até à data, ao triunfar nas categorias “queer” e “voto do público.
Nos restantes candidatos aos Oscars nesta categoria de ‘live action’, encontra-se outro filme com fortes ligações a Portugal: “Estranha forma de vida”, realizado por Pedro Almodóvar, com José Condessa no elenco.
Se for confirmado como candidato – a lista definitiva será revelada a 23 de janeiro; a cerimónia de entrega dos Oscars ocorrerá depois a 10 março, dia das eleições legislativas antecipadas em Portugal –, “Um caroço de abacate” segue as pisadas de “Ice merchants”, o primeiro filme português a ser nomeado para os Oscars. Todavia, caso o consiga, tornar-se-á a primeira produção nacional a consegui-lo na categoria de ficção, uma vez que a nomeação do filme de João Gonzalez e Bruno Caetano foi na área da animação.
Filme de Canijo ficou de fora
De fora da lista ficou “Mal viver”, o candidato português a melhor filme internacional, confirmando o histórico divórcio do cinema português com a Academia das Artes Cinematográficas de Hollywood.
Nem mesmo a carreira internacional fulgurante, de que foi prova a atribuição do Urso de Prata em Berlim, garantiu o passaporte ao mais recente filme de João Canijo, que integra um díptico de que faz parte ainda “Viver mal”.
Na ‘short-list’ agora conhecida figuram produções de países como o Butão, Arménia ou Finlândia.
Para Ary Zara, a reduzida presença portuguesa nestes certames está diretamente ligada “ao pouco apoio para fazer cinema”, o que dificulta o acesso a quem quer impor-se nesta arte. “Com os orçamentos pequenos tentam-se fazer coisas grandiosas”, reforça.