
Prestação de Arieh Worthalter tem sido alvo de vários elogios
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Estreia esta quinta-feira “O Processo Goldman”, reconstituindo um julgamento de há 50 anos.
O início do ano está a ser marcado pela estreia de vários filmes biográficos, centrando-se na vida de gente tão distinta como o construtor automóvel italiano Enzo Ferrari ou o dramaturgo e Prémio Nobel irlandês Samuel Beckett.
Além de “Ferrari”, de Michael Mann e “Dança Primeiro, Pensa Depois”, sobre Beckett e com assinatura de James Marsh, chega também hoje às salas de cinema um filme que não só se baseia igualmente em factos verídicos como adiciona a essa sua característica o de se tratar de um filme de tribunal, outro género muito apreciado pelo espetador habitual de cinema.
Se juntarmos o facto de “O Processo Goldman” se tratar de um dos grandes filmes franceses do ano, selecionado para a agora Quinzena dos/das Cineastas, então teremos seguramente uma forte razão para ir ao cinema. São quase duas horas de onde se sai seguramente bem disposto, graças à realização apaixonada de Cédric Kahn, e mais rico, pelo caso único que o filme relata.
Pierre Goldman, filho de dois resistentes judeus polacos, nasceu em Lyon em 1944 e tornar-se-ia radical de esquerda, formado em Cuba e na Venezuela, militando contra as guerras da Argélia e do Vietname e tomando parte numa vaga de assaltos, de que resultariam dois mortos e um polícia ferido.
Condenado a prisão perpétua num primeiro julgamento, escreve na prisão um livro demonstrado que não podia ser culpado, levando à abertura de um novo processo, que o filme de Cédric Kahn reproduz. A força de “O Processo Goldman”, o filme, reside sobretudo na forma como o ator Arieh Worthalter reencarna todo o carisma de que muito se fala desta personagem e na espantosa recriação do ambiente de tribunal.
Nesta altura do segundo julgamento, o “caso Goldman” apaixonava a sociedade francesa e as forças opostas, contra e a favor da sua absolvição, estiveram representadas nos bancos do tribunal. Cédric Kahn distribuiu os figurantes pelos dois campos e as reações que vemos são espontâneas, como o devem ter sido há quase cinquenta anos.
Absolvido, Pierre Goldman seria assassinado em 1979 por uma organização criada por De Gaulle e pouco depois dissolvida. Mas essa é já outra história.
