Cantora escocesa Kathryn Joseph fala ao JN da sua visão musical para “Fausto”, filme mudo de Murnau que é projetado este sábado na Capital Portuguesa da Cultura - Braga 2025.
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“Em todos nós existem estas dicotomias: o bem e o mal; a dor e o prazer; a verdade e a mentira”. Foi esta convicção que levou Kathryn Joseph a compor uma nova banda sonora para “Fausto” (1926), filme mudo de F. W. Murnau que se apropria da lenda alemã baseada no alquimista Johann Georg Faust - entregou a alma ao diabo em troca de conhecimento infinito e prazeres terrenos.
O filme será projetado este sábado às 21 horas, no Theatro Circo, em Braga, acompanhado pela nova música da cantora e compositora escocesa.
Inserido no programa Cinex, “linha de programação de cinema expandido de Braga 25 - Capital Portuguesa da Cultura”, que ao longo do ano apresentará cineconcertos, releituras de filmes, exposições e instalações, o espetáculo partiu de um convite a Kathryn Joseph, que atuara em Braga em 2019.
Amor, luxúria e perda
“Deram-me várias opções de filmes e eu escolhi ‘Fausto’, porque se relaciona com os temas que sempre explorei na minha música: o amor, a luxúria e a perda”, diz a artista ao JN.
Cantora de voz trémula e enevoada - “há algo das Highlands escocesas nos meus primeiros discos”, diz a artista nascida em Inverness em 1974 -, conta três álbuns editados e um quarto em preparação.
Minimalismo intenso e doloroso tem sido uma forma comum de descrever a sua música, que se revelou, em 2015, com o aclamado “Bones you have thrown me and blood I’ve spilled”, que lidava com a morte do seu filho Joseph (cujo nome adotou para a sua persona artística em palco).
A catarse “brutal”
Mas não se escutará a voz de Kathryn - apenas o piano introspetivo, esparso e exploratório fará companhia às imagens de “Fausto”. A leitura de Murnau sobre a lenda sugere otimismo, com um final em que o amor triunfa sobre tudo, mas o caminho até essa catarse é particularmente “brutal”, diz a cantora: “Podemos olhar para o Mundo com esperança quando o filme termina, mas o preço que foi pago entretanto é demasiado alto. Assistimos a um caminho de pedras”.
Para Kathryn, a história de Fausto é reveladora do humano: “Todos podemos ser tentados. Vivemos num equilíbrio moral bastante precário”. E essa ideia tem sido explorada no seu trabalho, que passou já pela criação de música para teatro, mas nunca por um projeto desta natureza.
“Levei três meses a criar a banda sonora. Há alguma semelhança com o meu disco novo [será lançado a 1 de maio], que é mais urbano, mais relacionado com Glasgow. Contém mais ruído, as canções têm um suporte mais vigoroso, mas o estilo minimalista mantém-se”, explica Kathryn, que estará presente em palco enquanto assistimos às imagens expressionistas de Murnau.