"Alegria terminal" é o álbum de emancipação sonora do grupo de Rodrigo Vaiapraia.
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A combustão e a fúria permanecem indomesticadas, mas há em "Alegria terminal", novo álbum de Vaiapraia, abundantes exemplos de como o forte apelo da sua música não se esgota nesses predicados.
À urgência do rock (o baixo em galope, as percussões desenfreadas e uma voz que se metamorfoseia como poucas), o músico setubalense estabelecido há cinco anos em Londres doseia agora estados de alma díspares, mas sem que tal atrapalhe o essencial: as suas canções são fugas aceleradas de uma sociedade da qual se distancia pelo inconformismo de que não abdica.
Acompanhado por um Ana Farinha, April Marmara e Chica, Vaiapraia expõe as vitórias, derrotas e delírios pessoais em pequenas doses de prescrição obrigatória, curas possíveis de males que não têm solução plena. "Não me obrigues a dizer quem sou", grita em "Ulucrudador", num tema cuja voz grave nos remete para João Peste, dos Pop Dell"Arte.
Se "100% carisma", de 2020, já tinha chamado a atenção pela rara crueza, "Alegria terminal" é o verdadeiro disco de emancipação de um músico que faz questão de embeber as canções que escreve e compõe em vivências acumuladas, matérias primeira e última de tudo quanto cria.
"Kolmi" é um irresistível hino hedonista, perfeito para uma exposição radiofónica imoderada; "Eu quero, eu vou", um manifesto da individualidade que não admite negociação; "Tupperware furado", um canto sofrido das frustrações do quotidiano de quem desabafa que "dá tanto trabalho estar a sós comigo".
A visceralidade, tão cara a Rodrigo Vaiapraia, manifesta-se em particular em temas como "Sing along", carrossel de emoções nas quais experiencia ora o êxtase, ora o torpor, ou "Ar com ar", descarga de garage rock com uma batida compassada acerca dos efeitos do peso tantas vezes insustentável da vida.
"Alegria terminal"
Vaiapraia
2025