Quase a fazer 26 anos, a Útero, propõe um Hamlet diferente, na sexta-feira, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Um cruzamento entre a dança e o teatro, em que a palavra de Shakespeare se traduz em cinesia.
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Segundo o criador, Miguel Moreira, "os títulos são importantes, são indicativos, descodificadores, são como uma porta de entrada". Este "anjo do bizarro" é alguém que enlouquece, "como todos nós", perante a incompreensibilidade dos fenómenos da vida: traição, vingança, corrupção, imoralidade, ambição, vingança. "Teria Hamlet acreditado no fantasma se não se tratasse do pai?" - pergunta Miguel Moreira. A resposta fica a cargo de cada pessoa que for ver o espetáculo. O criador assume a influência a morte do seu próprio pai, em fevereiro, teve neste trabalho.
É de forma completamente descomplexada que Miguel Moreira fala da influência da família no seu trabalho e neste em particular. Maria Fonseca, a sua companheira de vida e cocriadora neste projeto é a bailarina que empresta o corpo ao personagem principal. "Este Hamlet é feito por uma mulher, mas isso não é assunto. Eu não me inscrevo numa arte de denúncia. É ela porque durante os ensaios verificamos que era o que fazia mais sentido", afirma.
"É um homem em relação com a loucura, alguém que sai da norma e que é rotulado como louco e isso interessa-me", desvenda. Miguel Moreira não se cansa de elogiar Guimarães como o "melhor sítio para criar". "Tenho tudo aqui à mão, ligo à senhora que faz os cortinados e passados cinco minutos ela está aqui, o picheleiro que está a fazer os trabalhos em ferro, chamo-o e ele vem. É como trabalhar num grande teatro nacional com uma enorme equipa de cenografia, só que os teatros nacionais já não têm essas equipas", ri-se.
PARTICIPAÇÃO DOS NICOLINOS
A morte de Ofélia, a personagem ambivalente no original de Shakespeare, entre a ninfa tentadora e donzela imaculada, é quase a última cena desta reinterpretação. "Um momento muito forte, caótico", revela, "uma coisa apoteótica, muito física, com ferros pelo ar". É provavelmente neste momento que serão integrados os Nicolinos, com as suas caixas e bombos. Esta integração de elementos locais é uma experiência que já foi feita com o Coro das Seis do Conservatório de Loulé, na cidade algarvia, e com o grupo Cante Alentejano Ausentes do Alentejo, no FIAR, em Palmela.
Os bilhetes podem ser comprados nos balcões do Centro Cultural Vila Flor, do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, da Casa da Memória, na Loja Oficina e nas bilheteiras online.
Os preços para assistir à peça variam entre 7,5, com desconto e 10 euros, o preço normal.