
Livro foi publicado pela primeira vez pela Quetzal há 12 anos
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A defesa intransigente do lazer é o foco principal de "O livro dos prazeres inúteis", uma obra dos jornalistas ingleses Dan Kieran e Ron Hodgkinson agora reeditado pela Quetzal.
São centena e meia de páginas nas quais os conceitos que encontramos com frequência nos cada vez mais populares livros de desenvolvimento pessoal - a saber: produtividade, eficiência ou maximização do lucro - são gloriosamente trocados pelo seu exato oposto.
Autêntico manifesto hedonista de consulta quase viciante, este "Livro dos prazeres inúteis" procura ser a demonstração literária de "que as melhores coisas da vida são realmente de graça". Uma evidência que a hiperlucrativa indústria do lazer tenta fazer esquecer a todo o custo.
Cada um dos microtextos que compõem o grosso desta obra é um convite à fruição do tempo e, de um modo porventura ainda mais incisivo, à rejeição absoluta do modelo de desenvolvimento em que têm assentado as sociedades desde o advento da era industrial.
Essa antítese da ação a que o livro apela em cada fragmento pode manifestar-se de formas tão ociosas e assumidamente inúteis como apanhar folhas, contemplar as estrelas, deambular pelas cidades, trincar palha ou simplesmente andar de roupão.
Como escrevem os autores num dos mais inspirados capítulos do livro, "a sociedade tem medo das pessoas com tempo para pensar. Sabe-se que são as pessoas desse género que costumam mudar as coisas. É por isso que o roupão é o verdadeiro uniforme da revolução. No futuro, numa qualquer altura bem distante da nossa, os homens e as mulheres olharão com assombro para o dia em que os donos do poder global forem finalmente derrubados - por um exército de pessoas em roupão".
Se os livros que procuram instigar a ociosidade não são assim tão raros, o que eleva esta obra da mediania habitual são os atributos da sua escrita, para a qual confluem a erudição, a leveza e o humor. A par de citações certeiras ("os prazeres ilícitos são proibidos até se tornarem rentáveis", como escreveu o filósofo belga Raoul Vaneigem), a dupla de autores, responsável pela edição da revista "Idler", convoca para o livro alguns princípios que, embora pareçam óbvios, tendem a ser esquecidos pela generalidade dos indivíduos no seu quotidiano.
É disso exemplo a convicção de que o prazer inútil, a somar a todas as outras virtudes, também é extremamente amigo do ambiente. Afinal, "não há nada que seja menos prejudicial ao ambiente do que não fazer nada".
