Num festival em que o cartaz é dominado por DJ e pela música eletrónica, o som de Seu Jorge aterra quase como um OVNI. Um OVNI benfazejo, que alarga os horizontes musicais de um público maioritariamente jovem e tempera o ambiente com a sua visão muito particular da herança da MPB (música popular brasileira).
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Não que Seu Jorge dispense a eletrónica e outras sonoridades apreciadas pelos milhares que, no início do concerto, hesitavam ainda entre aderir sem reservas ou entregar-se ao bocejo. O músico, que é também ator (em "Cidade de Deus" interpreta Mané Galinha), convoca toda a modernidade para revigorar uma intenção clássica: criar canções sólidas que ressoem no espírito pelas suas palavras e melodias.
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O seu groove elegante, que combina o funk, o rock, a soul e o samba, foi omnipresente nos temas originais que apresentou (de álbuns como "Cru" ou "Músicas para churrasco, vol. 2", o seu último registo, de 2015) ou nas versões soberbas que desenhou a partir de canções como "Life on mars?" (extraído do álbum "The Life Aquatic Studio Sessions", onde homenageia o génio de David Bowie) ou "Você abusou", de António Carlos e Jocáfi.
No final do concerto, Seu Jorge fez uma declaração de amor a Portugal e abriu caminho a Damian Marley, que atuaria a seguir, com uma releitura dub de "Chatterton", mas não foi nesse momento que conquistou o público. O OVNI tinha feito a abdução muito antes. E o público dançava sem reservas naquela nave.