Remix Ensemble da Casa da Música com estreia mundial, composta por Francesco Filidei, para assinalar aniversário.
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Francesco Filidei sobe e desce a Sala Suggia até ao centro, braços no ar, volta a descer frenético, escala para o palco, coloca-se ao lado do maestro Peter Rundel, olha a pauta uma e outra vez, aproxima-se dos músicos e sussurra-lhes coisas ao ouvido. Volta a percorrer o caminho até ao centro da sala, com os nervos a tolherem-lhe os gestos. O seu "Requiem" terá estreia mundial esta terça-feira, às 19.30 horas, num concerto para celebrar os 20 anos do Remix Ensemble, na Casa da Música (CdM).
Cada compasso que escreveu foi a pensar nestes músicos, os mesmos que estrearam a sua primeira ópera, "Giordano Bruno", em 2015, apresentada em várias salas de concerto europeias desde então.
"O que quer que tenha levado a escrever um requiem é um mistério que ainda tenho de resolver. Mas penso que neste ano especial é importante pensarmos sobre a ausência", explicou, deixando escapar, numa justificação mais prosaica, que das dezenas de obras que compôs, ainda não tinha nenhuma deste género. Desde que, em 2016, se tornou Cavaleiro de Artes e Letras do Ministério da Cultura francês, tem somado êxitos. Ingressou entretanto na Fundação I Teatri de Reggio Emilia (Itália), como consultor musical, em 2018, e na Villa Medici, em Roma, como diretor artístico do festival Controtempo de música contemporânea.
património do futuro
Para a CdM é fundamental a existência do Remix Ensemble, porque potencia maior coerência dentro da programação e preenche lacunas da música contemporânea, no panorama português e internacional, sublinha António Jorge Pacheco, diretor artístico da instituição.
Apesar do repertório não ser o previsto para o vigésimo aniversário, o responsável assume estar contente com o programa que permitirá apresentar "linhas estéticas diferenciadas de três gerações distintas".
Como contou o maestro Peter Rundel, que dirige o agrupamento há 15 anos, as escolhas acabaram por recair naqueles músicos considerados a "família" do Remix Ensemble. Além da estreia mundial de Francesco Filidei, será também interpretada "Joy", de "uma grande figura da cena internacional", Magnus Lindberg, que ainda não tinha sido tocada. A finalizar o programa, está uma obra do decano francês Hugues Dufourt, interpretada pelo pianista francês Pierre Laurent Aimard, que estava prevista para abril e foi agora reprogramada.
Desde 2000, o Remix Ensemble já realizou estreias mundiais de mais de noventa obras e atuou em dezenas de cidades. Além dos concertos, tem duas dezenas de gravações, "um lastro que é contemporâneo e património do futuro", notou António Jorge Pacheco.
Primeiro concerto oficial foi em Serralves
O primeiríssimo concerto do Remix Ensemble ocorreu na Universidade de Aveiro, em outubro de 2000, que já tinha à época "um importante núcleo de composição", como explicou António Jorge Pacheco, diretor artístico da Casa da Música. Mas apenas funcionou como um ensaio geral aberto ao público: o primeiro concerto oficial foi no Auditório de Serralves, a 24 de outubro de 2010. No repertório traziam, entre outras obras, de John Adams e Frank Zappa, dando o mote para o agrupamento dedicado à música contemporânea. Até terem casa própria, o mais difícil era andarem com os instrumentos atrás, contam.