Um retrato humano da exploração social

O cinema português é um dos produtos culturais mais apreciados no estrangeiro, colecionando prémios em festivais, em todas as suas vertentes;  já no mercado interno, o acolhimento é outra história.

Do que nos fala “On falling” é de algo diferente e, se não novo, pelo menos raro: o sucesso de uma jovem autora portuguesa que decidiu instalar-se lá fora, e nos conta, de forma simples e comovente, a história de uma mulher que também quis procurar vida melhor noutras paragens.

O trajeto de Laura Carreira, a realizadora estreante deste drama, conta-se em meia dúzia de palavras. A portuense decidiu ir estudar cinema para Edimburgo, na Escócia, e por lá ficou. Passou pelas dificuldades naturais de quem quer fazer os primeiros filmes, mostrou qual é o seu universo autoral e chamou a atenção da Sixteen Films, produtora do histórico Ken Loach, com o seu cinema de cunho social. O resultado é “On falling”, vencedor de prémios nos festivais de Londres, San Sebastian e Salónica, neste último caso para a atriz Joana Santos.

É ela a personagem central, Aurora, e trabalha num grande armazém de encomendas online. Os gestos repetitivos que executa todos os dias sublinham o seu quotidiano monótono; os outros emigrantes com quem partilha a casa não lhe fornecem escape; a única portuguesa com quem mantém amizade, e que lhe dá boleia para o emprego, vai voltar para Portugal – e Aurora não sabe o que fazer...

“On falling” é um filme de uma honestidade desarmante, de uma sinceridade a toda a prova e que não deixa dúvidas sobre os dilemas de uma geração engolida por um sistema que apenas a quer explorar.

Mas Laura Carreira, com o talento e a cumplicidade de Joana Santos, não cai na “mensagem”, no miserabilismo ou no seu oposto, um “happy end” que seria desajustado.

Em "On fallling" sente-se a herança de Ken Loach e do seu realismo social, com o peso do drama humano a envolver o espectador. É preciso ir às salas descobrir este filme.