Programa comemorativo do centenário do nascimento do pensador marcado pelo esforço de divulgação da sua obra.
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Um ano inteiro para aprofundar o conhecimento da obra, ampliar o universo de leitores, expandir o legado e mapear o pensamento.
São estes os eixos das comemorações do centenário do nascimento de Eduardo Lourenço. As linhas gerais do programa vão ser anunciadas hoje na Guarda, sede do Centro de Estudos Ibéricos - associação que o autor de "O labirinto da saudade" ajudou a criar, no final do século passado -, com a presença de responsáveis dos 17 parceiros oficiais do evento, entre autarquias, universidades e instituições públicas e privadas.
A partir de 23 de maio, arranca uma longa jornada comemorativa que Rui Jacinto, presidente da comissão científica do centenário, pretende que seja um novo passo para uma aproximação efetiva à vida e obra de um dos pensadores portugueses mais influentes do último século.
"Os seus livros são relativamente conhecidos, mas é preciso divulgá-los ainda mais", salienta. Esse esforço vai passar pela promoção de um conjunto alargado de colóquios e conferências em várias universidades portuguesas, mas também estrangeiras, porque, de acordo com Rui Jacinto, há muito ainda por fazer no plano académico: "A sua obra é tão ampla e vasta que há sempre facetas por explorar, por muito que já tenha sido estudada. Há novos olhares por lançar e ainda não chegámos, de todo, ao fim da história".
A par das universidades, o Ensino Secundário será alvo de um especial enfoque. A parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares vai consubstanciar-se sob a forma de várias ações, como colóquios e exposições em escolas de norte a sul.
Os lugares marcantes
A reconhecida exigência da obra de Lourenço não é, para o comissário científico, um obstáculo ao envolvimento escolar, porque "há temas abordados nos currículos do Secundário, como a imigração, que estão muito representados nos livros e textos que escreveu".
Longe de estar ainda fechado, o programa comemorativo atribui particular destaque às três cidades portuguesas mais decisivas no percurso do filósofo: Guarda, Coimbra e Lisboa.
Às três, como reconhecimento do papel que tiveram ao longo da sua vida, atribuiu mesmo parte do seu espólio. Se a Biblioteca Municipal da Guarda recebeu 8500 livros e a Biblioteca Nacional ficou na posse dos seus manuscritos, a Coimbra - mais concretamente, a Casa da Escrita, a Faculdade de Letras e a Biblioteca Geral da Universidade - fez chegar o restante da sua abundante produção intelectual.
Para Rui Jacinto, é esta "a rede de lugares que define a geografia lourenciana", ponto de partida para o segmento "Territorializar um pensamento desterritorializado", nome dado ao Roteiro Eduardo Lourenço, que se irá desenrolar no espaço de um ano com o apoio do Turismo de Portugal e da Direção Regional de Cultura do Centro.
O interesse do homenageado por outras manifestações artísticas, como o cinema e artes plásticas, sobre as quais também escreveu, vai refletir-se no rol de iniciativas a apresentar, segundo a comissão organizadora.
De S. Pedro do Rio Seco à Baía
Abertura oficial
No próximo 23 de maio, dia em que se completam cem anos do nascimento de Eduardo Lourenço, a sua freguesia natal, S. Pedro do Rio Seco, e a cidade onde viveu a maior parte da infância, a Guarda, acolhem o arranque oficial das comemorações. O Congresso de Leituras é um dos pontos altos do programa de abertura.
Universidades
São, para já, oito as universidades - Coimbra, Lisboa, Porto e Évora, em Portugal, e Salamanca, Bolonha, Baía e Rio de Janeiro, fora do país - que se associaram às comemorações. Até maio de 2023, comprometem-se a desenvolver congressos, seminários, colóquios e exposições. As datas de realização vão ser reveladas em breve.
Instituto Camões
À semelhança do que aconteceu com Agustina Bessa-Luís, o Instituto Camões vai promover uma exposição biobibliográfica em torno de Eduardo Lourenço. A mostra vai ter uma itinerância nacional, além de percorrer cátedras e rede de leitorados pelo Mundo fora.
Roteiro
S. Pedro do Rio Seco, Almeida, Guarda, Coimbra e Lisboa são os locais que integram o Roteiro Eduardo Lourenço, intitulado "Territorializar um pensamento desterritorializado". Um dos vários roteiros previstos vai realizar-se no âmbito do curso de verão do Centro de Estudos Ibéricos em Coimbra, Guarda e Almeida.
Biblioteca Nacional
A reta final das comemorações traz uma das iniciativas mais emblemáticas do programa. Em fevereiro de 2024, a Biblioteca Nacional inaugura uma exposição retrospetiva que se prolonga até maio, encerramento das comemorações oficiais do centenário.