Acácio Viegas é um dos artistas que protagoniza o contemporâneo no espaço público de Viana do Castelo
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A chegar aos 50 anos de Democracia, Portugal não foi capaz, do ponto de vista da sua imagem institucional e pública, de combater, do ponto de vista cultural, a sua condição de periferia da Europa, mantendo-se fiel à narrativa identitária do projeto de António Oliveira Salazar (PT, 1889-1970) e de António Ferro (PT, 1895-1956). O Estado Novo, através de um eficaz Secretariado de Propaganda Nacional (1933-1945) e depois do Secretariado Nacional da Informação (até 1949), veiculou um conjunto de símbolos, de tradições que, ainda hoje, muitos definem como identidade portuguesa. A recente polémica em torno da revisão do logótipo do Governo da República e as resistências verificadas junto de um setor conservador da sociedade, são exemplo da eficácia da propaganda da velha senhora, que tinha como objetivo impedir a adesão às vanguardas e ao cosmopolitismo internacional, mantendo o povo refém da ideia de um país rural, com o sentido de pertença no passado. Basta considerarmos que o primeiro grupo de folclore português é fundado, apenas, em 1934, não havendo qualquer evidência histórica dessa etnografia feita espetáculo antes da chegada de Salazar ao poder. O povo cantava e dançava no contexto das colheitas e da celebração dos ciclos da natureza, mas tornar essa manifestação natural do ser humano em marca cultural fez parte da estratégia do Estado Novo.
Essa cristalização contribui, em grande medida, para que o país permaneça impermeável à inovação e à vanguarda, sendo o Velho do Restelo da lírica camoniana uma personagem que habita os nossos dias, de norte a sul do país, do litoral ao interior, não escapando à missiva os grandes centros urbanos onde, talvez, mais se sintam os ares de um desejado cosmopolitismo. Viana do Castelo é exemplo claro dessa cristalização, mantendo uma dependência promocional quase exclusiva da famigerada Romaria da Senhora da Agonia que, ainda que aparentemente centenária, só é tornada evento a partir da década de 1950, como não deixam mentir, inclusive, os cartazes e os documentos de época.