Dexter In The Newsagent, Bruce Springsteen e aquele tema pop que não deslarga o coração.
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É uma contrição, é conformação ou é apenas aquilo que (parece que) é: “I can love you like you want me to”, diz ela, a começar a desfolhar a brisa da canção, para depois rematar para o fundo das redes do seu princípio vital, “because I can’t be on my own”.
"Special”, o mais recente single de Dexter In The Newsagent, ou seja, Charmaine Ayoku, artista do sul introspetivo de Londres que exala golfadas acústicas na sua câmara caseira de dance-pop com a facilidade de quem se limita a abrir a boca e respirar, é mais do que uma canção de verão; é, afinal, um manual de autoestima e validação. O seu sopro é especialmente solar: guitarra esvoaçante, batida atmosférica, espectral, depois um baixo, uma cortina de clubbing e aquela voz floral de Ayoku que é um autêntico romance estival. É o single do mês – e dos meses que aí vierem até ao fim, e ainda mais além, do queimor. O amor é para sempre?
O amor é reconhecimento, é o perfume da casa de infância, é uma brisa nas veias, é a glória imortal, “Under a big sky”, a nova canção que Bruce Springsteen acaba de lançar e que foi gravada em abril de 1998, agora inserida na vastidão de “Tracks II: the lost albums”, caixa que reúne uma profusão de material inédito, e em grande parte desconhecido, revela-nos um velho/novo Springsteen. Voz, harmónica, guitarra acústica – e um mar utopista de imortalidade a pulsar.
A canção mais essencial raramente é a mais familiar, mas “Messy”, single do início do ano da britânica Lola Young, continua a rodear-nos por todos os lados e poros do “airplay” com a sua pop sacarina. Quem a ouviu no streaming da BBC a partir do Festival de Glastonbury, não há de ter deixado de se espantar pelo público a cantar o refrão numa só nuvem de pulmões. Para quem andar distraído: Lola é a estrela maior do Festival de Paredes de Coura de agosto e é lá que nos vai entregar o seu manual de como navegar vulnerabilidades e perturbações de hiperatividade e défices de atenção.