Clément Oubrerie e a escritora premiada Leila Slimani assinam "Nas suas mãos", uma biografia de Suzanne Noël, a cirurgiã pioneira da estética.
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"Nas suas mãos", edição muito recente da Iguana, é a biografia de Suzanne Noël (1978-1954), a primeira mulher a praticar cirurgia estética e uma lutadora pela emancipação feminina.
Num mundo em que se vive a um ritmo cada vez mais vivo, que impede até de viver e aproveitar o que a vida pode trazer-nos de bom, há uma tendência crescente para dar tudo como adquirido, esquecendo que as coisas simples, bem como as grandes mudanças ainda há não muitos anos levavam décadas para serem alcançadas.
Vem isto a propósito de algumas questões que Suzanne Noël defendeu e pelas quais lutou, como o direito devoto das mulheres ou a aceitação da cirurgia estética como uma necessidade e não apenas um capricho de vaidade. Dessa forma, levou-a bem mais longe do que o tratamento de feridos de guerra, na correção de malformações de nascença ou para permitir que muitas mulheres - e também homens - se sentissem bem no seu corpo ou pudessem continuar a ocupar posições que as marcas da idade tornam impossíveis.
Se é verdade que a protagonista teve o apoio da mãe e dos dois maridos, é igualmente inegável que foi uma visionária capaz de ultrapassar os obstáculos que a sociedade impunha, afirmando-se através da sua dedicação e do trabalho.
O argumento é de Leila Slimani, escritora francesa vencedora do Prémio Goncourt de 2016 por "Canção doce" e o facto de escritores consagrados assumirem o papel de argumentistas em obras de banda desenhada, é mais um sinal da ascensão lenta e da afirmação irreversível desta arte.
Em "Nas suas mãos", Slimani divide a autoria com Clément Oubrerie, autor experiente já com várias incursões em biografias aos quadradinhos, o que é evidente na forma como trata graficamente o relato.
O traço é personalizado, a composição de página é clássica mas com algumas variações interessantes, e aplica a cor, que varia conforme o momento narrado, num todo que flui de forma agradável, longe da explanação fria de dados biográficos, preferindo centrar-se no quotidiano da protagonista, nas suas relações e nos seus feitos.