
Abuso sexual e violência doméstica são alguns dos temas abordados na série
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Minissérie franco-alemã exibida pela Netflix revela os dramas de uma família bem mais frágil do que aparenta ser em público.
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Anya (interpretada por Eden Ducourant), uma jovem no início da vida, deixou Berlim, onde vivia com os pais, Hélène (Julie Gayet) e Mathias (Andreas Pietschmann), e o irmão, Luckas (Maxim Driesen), - a família perfeita - para ir para Paris. Por razão de peso que descobriremos, fez o percurso inverso ao da mãe, décadas antes, quando quis libertar-se do que sentia como jugo da própria mãe.
Meses depois, Hélène, recebe um telefonema: Anya está acusada de homicídio. Larga tudo e parte para ajudar a filha e tentar compreender o que aconteceu. Vai descobrir que Anya acompanhou Damien (Charles Crehange) que conheceu numa discoteca, foi drogada com GBH, abusada sexualmente e acordou ao lado do cadáver do seu carrasco, com perda de memória das últimas horas.
Hélène recorre a Vincent (Tomer Sisley), agora advogado, alguém que conheceu - e abandonou - na sua juventude, descobrindo que o que existiu entre eles ainda está latente.
Com o avançar da história, divida pelos quatro episódios desta mini-série de produção franco-alemã, vai sendo revelada uma teia de mentiras, das aparências da 'família perfeita' ao que aconteceu no fatídico apartamento. E afinal, a história policial de base, revela-se também um retrato sociológico de famílias em desagregação; de jovens sem perspectivas, com futuro indefinido, presos aos pais, porque não têm mais nada, mas que só querem encontrar o seu próprio caminho para não repetirem os erros dos progenitores.
Por outro lado, a investigação, desenvolvida em paralelo pela polícia francesa, por Hélène e Vincent e por um jornalista pago pela mãe da vítima, vai revelar como os factos aparentemente sólidos, podem ter diversas interpretações e leituras em função das perspectivas e do lugar que cada um ocupa, sejam eles pais, filhos, irmãos, autoridades ou participantes colaterais, num contexto social por onde perpassam temáticas actuais como o abuso sexual, a violência doméstica, a imigração clandestina ou o activismo dos jovens.
No final, sobra uma enorme interrogação, que sobrepassa o simples destino dos membros daquela família, afinal imperfeita como todas são, e nos interroga sobre o mundo que estamos a construir e a deixar em herança.
Uma mãe perfeita
Criação: Thomas Boullé e Carol Noble
Com Eden Ducourant, Julie Gayet, Andreas Pietschmann e Tomer Sisley
Netflix, 2021

