Uma máquina contra a guerra: vida e morte do homem que filmou o Mundo a desabar

Brent Renaut passou as últimas décadas a registar conflitos e desastres humanitários
Foto: Direitos Reservados
Morreram 86 jornalistas em 2022, segundo dados da UNESCO. Brent Renaut, fotojornalista norte-americano, foi um deles. Conhecido cineasta e documentarista, tinha 50 anos em 13 de março, quando foi baleado no pescoço pelas tropas russas na cidade ucraniana de Irpin, palco de duros combates. Foi o primeiro profissional estrangeiro dos média a morrer em serviço na guerra da Ucrânia.
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A violência da guerra arranca fundações de casas, desfaz famílias e rouba vidas como a de Brent, que morreu a fazer o que gostava. Isto conta-nos a curta-metragem da HBO Max "Armed Only With a Camera: The Life and Death of Brent Renaud", que revela as últimas gravações do jornalista, incluindo o seu trágico fim.
Realizado pelo irmão mais novo, Craig, eterno companheiro de lazer e de trabalho em locais de conflito, o filme faz-se máquina do tempo, retrocedendo à sua casa de família no Arkansas e seguindo a jornada de Brent até ao último suspiro.
O jornalista dedicou a carreira a registar pessoas que perderam tudo. Com Craig, aprendeu a sobreviver em zonas de guerra e passou as últimas décadas a filmar conflitos e desastres humanitários em países como o Iraque, Afeganistão, Somália, Egito, Líbia, Haiti, México e Honduras.
Entre destroços de casas inabitáveis e altas explosões que abanam as imagens, focava-se nos rostos inocentes, nas lágrimas das crianças com fome e no desespero das mães que dão o último colo a um filho. Acreditava que a realidade da guerra não devia ser escondida.
De mesma forma, o documentário de apenas 40 minutos é um retrato íntimo da vida do fotojornalista norte-americano, um olhar sobre o homem que nunca deixou de ser a criança de dez anos com a primeira máquina fotográfica pendurada no pescoço e a ferida aberta do último regresso a casa.
Brent morreu, mas Craig devolveu-lhe a vida que as balas russas tentaram calar.
Brent não é um número nas estatísticas da guerra, é o gesto de levantar a câmara mesmo quando a terra treme e o impulso de contar a verdade até que alguém a ouça. E "Armed Only With a Camera" não é um epitáfio, é a prova de que alguns morrem para que outros possam ver.
Há histórias que só existem porque alguém teve a coragem de estar lá com a câmara ligada e com o Mundo inteiro a desmoronar-se em seu redor.

