“O Rapaz e a Garça”, o novo e último filme do mestre japonês Hayao Miyazaki, chega esta quinta-feira às salas de cinema.
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Hayao Miyazaki é uma lenda viva da animação e do cinema em geral. Fundador dos míticos Estúdios Ghibli, sediados em Tóquio e considerado por muitos o Walt Disney japonês – mas porque não exatamente o contrário? – Miyazaki é autor de verdadeiras obras-primas como “O Castelo Andante”, “O Meu Vizinho Totoro”, “Princesa Mononoke” ou “A Viagem de Chihiro”.
Quase com 83 anos e vivendo e trabalhando de forma simples na sua minimalista casa-estúdio, Miyazaki anunciara em 2013 a sua retirada do cinema, após a estreia de “As Asas do Vento”. Finalmente, reverteria a sua decisão, assinando em 2018 a curta-metragem “Boro, the Caterpillar”e começando a trabalhar no argumento e no storyboard de um novo filme de fundo. Estreado finalmente, “O Rapaz e a Garça” tem todo o aspeto de ser então a sua obra derradeira.
Seja assim ou não, estamos na presença de mais um exemplo sublime do universo de Miyazaki, numa obra que conjuga várias das suas obsessões temáticas e o confirma como um dos cineastas que, hoje em dia, mais investe num cinema que, verdadeiramente, uma forma de expressão artística. Ser um filme de animação é apenas um pormenor.
A ação do filme decorre em 1943, em plena Guerra do Pacífico. Um ano após a morte da mãe no grande incêndio de um hospital na capital, Mahito, um jovem de 12 anos, instala-se no interior, na casa onde o pai vive com a nova esposa, irmã da sua mãe, perto da fábrica militar de que é proprietário. Atraído por uma estranha garça que lhe promete aí encontrar a sua falecida mãe, Mahito penetra numa velha torre abandonada, onde encontra um mundo paralelo, partilhado por vivos e mortos…
Filme sobre a perda e o luto, sobre a redescoberta do prazer da vida, sobre as ténues fronteiras entre o real e o imaginário, entre o mundo terreno e o espiritual, “O Rapaz e a Garça” é uma viagem de contornos auto-biográficos, onde acompanhamos a personagem central por um labirinto de referências históricas e literárias, onde não faltam alusões à paixão de Miyazaki pela aviação e um reportório de imagens e personagens de muitos dos seus filmes.
Uma fantasia visual e sonora, que oferece ao espetador duas horas de enorme prazer estético e espiritual.