Cantora cúmplice de David Lynch, apresenta esta sexta-feira o álbum "Midnight Star" na Casa das Artes, Arcos de Valdevez, e no próximo sábado no Auditório Carlos Paredes, em Lisboa.
Corpo do artigo
Artista poliédrica, com trabalho na música, no cinema e na moda, alguns chamam-lhe "musa de David Lynch" pela sua participação na terceira temporada da série "Twin Peaks", onde interpretou a agente do FBI Tammy Preston e, sobretudo, pelos discos que assinou com o realizador de "Mulholland drive" - "This train" (2011) e "Somewhere in nowhere" (2016). Chrystabell conversou com o JN sobre o recente álbum concetual "Midnight Star", que definiu como "banda sonora para uma série glamo-futurista que nunca existiu" e que é a estrela dos seus espetáculos em Portugal.
Em "Midnight Star" cada canção corresponde a um episódio na jornada de uma heroína. Qual o objetivo da sua gesta e que desafios enfrenta?
Midnight Star, a protagonista, atravessa várias vidas a colecionar as peças do grande puzzle, e a sua missão é a única que verdadeiramente existe: tentar decifrar o mistério de existirmos e termos uma consciência. A resposta é encontrada da única forma possível: através da exploração do Eu e com a paz que chega quando nos rendemos ao desconhecido. Ela faz poesia do sofrimento e tenta encontrar conforto no absurdo da vida. Mas este é também um álbum cool de electro pop. Não tem de ser tão cerebral.
O que podemos aprender com esta história?
Espero que o disco estimule o ouvinte a celebrar o "grande mistério", em vez de ser consumido por ele.
Em termos de sonoridade, que novidades traz o álbum no contexto do seu trabalho?
Nunca tinha feito um disco só com eletrónica, sempre usei instrumentos e apenas algum sintetizador ocasional. Esse afastamento foi significativo para mim e descobri-me bastante feliz com a opção. O novo território era muito estimulante, mas também me intimidou, forçando-me a sair da zona de conforto e a aproximar-me de forma diferente das coisas, o que permitiu descobrir em mim novas facetas.
Fale-me um pouco de David Lynch. Que característica mais a atraiu no seu universo cinematográfico?
O compromisso inabalável do David com a sua própria visão artística é uma das suas qualidades mais extraordinárias. Tem uma coragem rara e notável.
O que trouxe dos filmes e da música dele para a sua própria experiência artística?
O David segue a intuição como o único guia possível para a arte que produz. Essa comunicação com o seu "deeper knowing" está sempre ativada. Inspirei-me muito nessa forma de criação e tento fazer o mesmo no meu trabalho.
Que podemos esperar dos seus concertos em Portugal?
Os espetáculos são uma mistura dos meus cinco álbuns de estúdio, com ênfase em "Midnight Star". Tive muitas vidas diferentes na minha carreira musical, por isso vou refletir, de algum modo, a premissa da Midnight Star, levando o público a uma aventura musical pelo universo que fui criando ao longo da vida, convidando-o a celebrar o "mistério" numa apresentação sensual e com encantamento cósmico.