
Kapwani Kiwanga mergulha nos contextos em que expõe
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A premiada artista franco-canadiana expõe a sua obra no Museu de Serralves até ao final deste mês.
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Recuamos aos ofícios da cidade invicta e ao apogeu dos Descobrimentos que, do cais de Miragaia até ao topo ao Jardim de João Chagas, pela causa laboral, conhecemos como Jardim da Cordoaria. A expansão marítima exigia o trabalho incansável das cordas e no pequeno areal de Miragaia não havia espaço para esticar, para a nova indústria que emergia. A escarpa foi ocupada pelos cordoeiros e a tradição ficou no lugar. Também o azulejo é parte do edificado histórico do país, sobretudo a partir do século XVII, enquanto a cerâmica, em sentido mais lato, é História do Ser Humano e simboliza, se quisermos, a sua relação à terra, a resposta utilitária à preservação dos espécimes alimentares e, ainda, a descoberta do seu potencial para a inscrição narrativa da vida. Não obstante, aprendi História da Arte a distinguir as belas-artes (pintura, escultura) das decorativas ou menores, onde se inseria tudo aquilo que fazia uso de tecnologias, algumas milenares, como a cerâmica, o têxtil ou mesmo o vidro. Eram dois mundos que não se inscreviam da mesma forma, com a mesma importância, numa escala de poder que ignorava as mudanças trazidas pelas vanguardas das décadas de 1960/70 e que acompanham um tempo lindo de lutas sociais e de conquistas de direitos, liberdades e garantias, globalmente falando, e que chega a Portugal com a Revolução de 1974.
