Estreia esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas a nova obra do cineasta norte-americano Paul Schrader, “O Mestre Jardineiro”.
Corpo do artigo
O que para o público em geral será mais um filme americano, sem grandes estrelas, a não ser a mais veterana Sigourney Weaver, podendo assim escapar à sua atenção no meio das várias estreias da semana, para os cinéfilos mais avisados é um dos grandes acontecimentos do ano cinematográfico.
Trata-se da chegada às salas de “O Mestre Jardineiro”, o novo filme de Paul Schrader, um autor, no sentido em que escreve e realiza as suas obras, que marca claramente o cinema dos Estados Unidos, e mundial, há quase 50 anos isto é, quase metade do tempo de existência do próprio cinema.
Para quem gosta de juntar filmes em trilogias, diz-se que “O Mestre Jardineiro” conclui um ciclo iniciado com “First Reformed”, que entre nós teve o título de “No Coração da Escuridão” e continuado com “The Card Counter: O Jogador”, centrado em homens com um passado...
Ora, não era esse já o caso do Travis Bickle de “Taxi Driver” ou mesmo, no limite, do Jesus de “A Última Tentação de Cristo”, filmes que escreveu para Martin Scorsese? Em “O Mestre Jardineiro”, a personagem chama-se Narvel Roth, vai tratar do jardim de uma mansão aristocrática, propriedade de uma mulher com quem vai mantendo uma relação amorosa, e a sua vida muda quando esta lhe propõe ensinar jardinagem a uma neta que ficou órfã. Quando Narvel lhe ensina mais do que era suposto, será também obrigado a revelar o que de mais obscuro guardava em segredo…
Schrader, “vítima” de uma educação religiosa e restritiva, só viu um filme muito tarde na sua juventude, aprendendo talvez por isso a gostar de um cinema estética e tematicamente mais transcendentais, para utilizar expressões do título do livro que escreveu sobre Dreyer, Bresson e Ozu.
No seu próprio cinema, Schrader gosta de nos levar a territórios mais obscuros, que certamente conhecerá. Tem um sentido visual que impressiona e costuma tirar o melhor dos atores com quem trabalha, como aqui com Joel Edgerton. E, todos estes anos passados, continua a falar-nos do que nós somos, agora, neste mundo. É por isso que filmes como “O Mester Jardineiro” podem ser, ao mesmo tempo, tão incómodos e tão fascinantes.