Unhas de Iolanda foram grito pró-Palestina. Eurovisão "escondeu" vídeo da atuação
Iolanda levou mais do que uma canção a Malmö, na Suécia, numa final marcada por incidentes e pela escalada da polémica em torno da participação israelita.
Corpo do artigo
“A paz irá prevalecer”, gritou Iolanda no final do "Grito" que levou ao palco da Eurovisão, no sábado à noite, e que lhe valeu o décimo lugar na tabela de classificação. Além de muito elogiada, a atuação portuguesa, que recebeu 12 pontos do Reino Unido, da Croácia e de França, terminando em sétimo lugar nos votos do júri, foi uma prestação literalmente pintada de mensagem.
A cantora e compositora de 29 anos usou unhas de gel com padrões alusivos à Palestina e à resistência palestiniana, motivando inúmeros relatos na Internet dando conta de que a organização da Eurovisão estaria a prejudicar a prestação portuguesa ao não publicar o vídeo da atuação, como estava a ser feito com os restantes concorrentes. Até à atuação de Iolanda, que foi a 18.ª a pisar o palco do festival e que rematou o momento com um apelo à paz, estavam a ser publicados nas plataformas da Eurovisão os vídeos das atuações imediatamente à medida que iam acontecendo. Mas, no caso de Portugal, o vídeo só viria a ser divulgado ao fim de mais de uma hora, já depois de terem sido carregados os vídeos de outras prestações, posteriores à portuguesa, e sob forte contestação dos fãs perante o atraso na partilha do tema luso.
De acordo com a RTP, a União Europeia de Radiodifusáo (EBU), organizadora do festival, optou por publicar no site oficial do concurso o vídeo da semifinal em que Iolanda se apurou (e em que tinha apenas as unhas brancas). A estação portuguesa questionou o organismo acerca da omissão e o vídeo acabou por ser publicado mais de uma hora depois.
No vídeo publicado no YouTube da Eurovisão, são vários os comentários de fãs nacionais e estrangeiros que apontam e condenam o atraso na publicação do vídeo, acusando a organização do evento de ter boicotado a portuguesa e travado um eventual melhor resultado.
Enquanto a candidata portuguesa se destacou pela defesa da causa palestiniana, os espectadores portugueses votaram em peso em Israel, com o televoto português a dar 12 pontos ao tema da israelita Eden Golan, “Hurricane”, que acabou por ficar em quinto lugar.
Suíça venceu Eurovisão marcada por controvérsia em torno da participação israelita
Contrariamente ao antecipado pelas apostas que davam a vitória à Croácia, a canção do artista suíço Nemo, "The Code", conquistou a Eurovisão, numa 68.ª edição marcada pelo conflito em Gaza e pela controvérsia em torno da participação israelita, que escalou numa sucessão inédita de incidentes nas horas que antecederam o evento.
Apesar dos esforços das autoridades e da organização para que o espetáculo se realizasse dentro da normalidade, não conseguiram impedir que este festival fosse o mais tenso e “caótico de sempre”, como descreviam vários especialistas da Eurovisão, ainda antes da final. Antes do início do evento, já se acumulavam incidentes, entre manifestações e apupos nos ensaios da canção israelita, passando pela desqualificação do holandês Joost Klein, por alegada “intimidação” a um membro da produção. E enquanto na Finlândia manifestantes invadiram a sede da emissora YLE, exigindo a retirada do concurso, em Malmö milhares de pessoas voltaram a protestar para exigir o boicote a Israel e o cessar-fogo em Gaza, levando a detenções, incluindo a da ativista sueca Greta Thunberg.
Bambie Thug, representante da Irlanda, não participou no ensaio final devido a "uma situação" nos bastidores, Grécia e Suíça não ensaiaram o desfile de bandeiras e o cantor francês, Slimane, interrompeu o ensaio da sua atuação para apelar à paz. A porta-voz do júri da Noruega, Alessandra Mele, retirou-se à última hora, invocando o “genocídio” em Gaza e, de acordo com a RTP, a delegação portuguesa foi uma das responsáveis por uma reunião de emergência da organização que aconteceu antes do evento. O grupo de Portugal terá pedido o encontro, juntamente com outros, depois de ter assistido a assédio e perseguição por parte de elementos da delegação de Israel nos bastidores.