Revisitar Val Kilmer é sempre meritório, mas agora que o ator desapareceu tornou-se urgente
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“Im the Lizard King, I can do anything”. Os braços abertos em cruz, os olhos semicerrados, o plano picado de Val Kilmer vertido na pele de Jim Morrison, cena icónica da carreira do ator, desaparecido esta semana, aos 65 anos. Há atores que nascem para interpretar, e depois há Val Kilmer, nascido para a mutação.
Ao longo de décadas, Kilmer entregou interpretações que são encarnações. Esse papel cola-se à pele como uma extensão da alma: Jim Morrison, em “The Doors”(1991) de Oliver Stone, disponível na Prime Video. Ver Kilmer em “The Doors” é esquecer que se está a ver um ator, é comprar um bilhete para uma viagem alucinada pelos excessos e pelos delírios de uma geração. A forma como Kilmer se dissolve na pele de Morrison, de olhar extraviado entre o céu e o abismo, é inquietante. Cantou, dançou, gritou e perdeu-se como o próprio Morrison. Talvez por isso mesmo, o filme transcende a biografia: torna-se ritualista.
Mas, seria injusto resumir Kilmer a um papel. Porque há também o icónico Iceman de “Top Gun” (1986), o rival frio e carismático de Maverick, que nos deu um dos duelos mais intensos do cinema de ação dos anos 1980, disponível na Netflix. Ou Doc Holliday em “Tombstone” (1993), sarcástico, doente, letal, tão magnético que engole o filme inteiro, pode ser visto na Hulu e na Disney Plus.
E há ainda o improvável, “Batman para sempre” (1995), onde Kilmer soube dar uma gravidade inesperada ao cavaleiro de Gotham, disponível na Hulu. Kilmer nunca foi de caminhos fáceis, selecionou personagens com cicatrizes, brilhos e demónios. Mesmo quando o estrelato parecia fugir entre os dedos, continuou a surpreender, como em “A sombra de um Homem” (2002), um thriller onde a sua intensidade volta a dominar o ecrã. Pode ser visto na Apple Tv.
“The Doors”
Prime Video
1991

