Vaudeville Redez-Vous: O circo de rua volta a tomar conta do Quadrilátero que vai passar a Pentágono
La Bande à Tyrex traz, pela primeira vez, ao festival as bicicletas como aparelho para um bailado sobre rodas.
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O festival de circo contemporâneo que se espalha pelas quatro cidades do Quadrilátero Urbano - Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão - na sua 11ª edição, vai acontecer entre 16 e 19 de julho. Os programadores, Bruno Martins e Cláudia Berkeley, do Teatro da Didascália, afirmam que o cartaz foi construído “sob a ideia de ciclo”. Há espirais metálicas que remetem para um movimento perpétuo, em “Ripple”, da companhia belga e neerlandesa TeaTime Company, mas também um olhar irónico sobre a morte, na tragicomédia “Masacrade”, onde os trapezistas ensaiam formas de morrer, “para dar sentido à vida”. A partir do próximo ano, o Vaudeville Redez-vous deverá estender-se a Viana do Castelo.
O festival acontece nas praças e largos das quatro cidades, sempre com entrada gratuita. O programador Bruno Martins, desafiado a escolher um espetáculo, se não pudesse ver mais nenhum, afirmou: “Optaria por ‘La Bande à Tyrex’ e depois roubava uma das bicicletas e circulava pelas outras três cidades para ver os outros espetáculos”. A criação escolhida pelo programador é o espetáculo de abertura do Vaudeville Rendez-vous, em Guimarães, no dia 16, às 22 horas, no recinto da Feira Semanal. Além de um pelotão de intérpretes em duas rodas haverá música ao vivo — trombone, baixo e voz. “La Bande à Tyrex” também pode ser visto no dia 18, às 22 horas, na Praça dos Poetas, em Barcelos.
“Cream” debruça-se sobre a relação entre Homem e máquina
Neste último ano em formato Quadrilátero, uma vez que a associação se estendeu a Viana do Castelo e passou a ser Pentágono Urbano, o festival mantém as coproduções: " Rima e "Cream". O primeiro é um espetáculo com roda cyr, inspirado em Octavio Paz, onde se cruzam poesia e movimento. No caso de “Cream”, uma criação do Instituto Nacional de Artes de Circo-INAC, o malabarismo é um instrumento usado para explorar a problemática da relação entre Homem e máquina.
A entrar na sua segunda década de existência a organização decidiu que o festival “será como um réptil que renova a sua pele” e, por isso, apresenta-se com uma nova identidade gráfica assinada por Luísa Martelo. “Ripple”, da companhia belga e neerlandesa TeaTime Company, é, porventura, um dos espetáculos que melhor traduz a ideia de “ciclo” que preside a esta edição do Vaudeville Redez-vous. A criação estreia no dia 17, às 19 horas, no ringue de futebol do Parque da Juventude de Vila Nova de Famalicão. Três artistas orbitam uma espiral metálica num movimento perpétuo em que fica claro que cada ação e gesto tem consequências. No dia 19 de julho, às 11 horas, é apresentado na praça de Pontevedra, em Barcelos.
Memória, tradição e participação popular
Há três espetáculos em estreia no Vaudeville Rendez-vous que remetem para a tradição e a memória como territórios vivos: “Nkama”, “Melic” e “Tancarville”. O primeiro estreia dia 17 de julho, às 19 horas, na praça de pedra do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães. Dimas Tivane parte de assobios, estalidos e outras particularidades da língua changana, falada no sul de Moçambique, para criar o seu espetáculo. Em “Melic”, a companhia catalã IF Circus vai pedir a mulheres com mais de 60 anos, num workshop em Barcelos, para tricotarem a corda que vai ser usada no espetáculo. É uma forma de recuperar uma arte em que eram tricotadas roupas “mas também relações”, esclarecem. A estreia acontece no dia 18 de julho, às 22 horas, na praça Municipal, em Braga. Já o coletivo francês Le G.Bistaki, em “Tancarville”, usa um lençol branco, símbolo de sonhos, memória e intimidade, mas que também se transforma em pele, traje, acessório e cenário. O espetáculo estreia-se no dia 17 de julho, às 22 horas, na praceta Francisco Sá Carneiro, em Barcelos.
A morte como parte do ciclo da vida
A morte é encarada com humor negro em “Masacrade”, da companhia francesa Marcel et Ses Drôles de Femmes que se apresenta no dia 17, às 22 horas, no recinto da Feira Semanal, em Guimarães, e no dia 19, às 22 horas, no largo do Pópulo, em Braga. Em “Homenaje”, a artista catalã Sílvia Capell, acompanhada pelo percussionista Bernat Torras, desenvolve uma tragicomédia que enfrenta a morte para celebrar a vida. Para ver no dia 17, às 22 horas, no Parque da Juventude, em Famalicão, e no dia 18 de julho, às 22 horas, na praça de pedra do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.
Um português em destaque
João Paulo Santos apresenta uma coreografia solitária no mastro chinês “Un Partie de Soi” - 35 minutos sem colocar os pés no chão - que pode ser vista no dia 18 de julho, às 19 horas, no jardim do Museu Alberto Sampaio, em Guimarães, e no dia 19, à mesma hora, na praça Braga 25, Campo da Vinha, em Braga.
No lançamento da edição deste ano, esta quarta-feira, na Casa da Azenha, em Barcelos, o presidente do Quadrilátero, Ricardo Rio, assinalou a “posição confortável que este festival ganhou nos últimos 11 anos”, tornando-se “num marco incontornável das nossas agendas”. O presidente da Câmara de Braga referiu que no próximo ano o festival deverá crescer territorialmente, estendendo-se também a Viana do Castelo, na medida em que o Quadrilátero passou a Pentágono Urbano.
Todos os espetáculos do Vaudeville Rendez-vous são de acesso gratuito. Nesta edição, pela primeira vez, alguns espetáculos contam com interpretação em língua gestual portuguesa, prática que a organização pretende expandir, nas próximas edições, a toda a programação. Ao longo do festival, decorrem workshops liderados por figuras de referência do circo contemporâneo e sessões de pitching com programadores internacionais.