Escritor bósnio Velibor Colic narra a sua condição de refugiado político em França no novo romance “O livro das despedidas”.
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Em 1992, quando chegou a França, Velibor Colic era apenas um dos muitos milhares de bósnios que fugiam de uma região em trágica e acelerada desagregação, perante o olhar impassível da opinião pública mundial.
Munido de um conhecimento nulo do francês (“conhecia apenas três palavras: Jean, Paul, Sartre”, como nos conta no seu livro anterior, “Manual do exílio”) carregou consigo, desde o instante da chegada, o anátema dos refugiados políticos, numa sociedade, como a francesa, tantas vezes hostil ao que vem de fora.
No segundo tomo da sua trilogia dedicada ao exílio, Colic transforma a sua experiência de vida em material literário impressivo, no qual o drama é apenas um dos muitos estados de alma que atravessam a narrativa. Fá-lo sem contemplações ou disfarces, não se eximindo de recorrer variadas vezes à autodepreciação como forma de enfatizar o longo trajeto pessoal percorrido nesse período.
Com espirituosidade e até humor franco, o autor vai recordando a sua lenta mas contínua adaptação ao país de acolhimento, dificultada por um objetivo quase utópico: afirmar-se como escritor e vencer a resistência generalizada que enfrenta.
“A minha fronteira é a língua; o meu exílio é o meu sotaque”, escreve.
Se os excessos com a bebida e os vários casos amorosos que vai acumulando procuram transmitir a imagem, um pouco forçada, de uma espécie de Charles Bukowski do centro da Europa, é como diligente escritor a procurar seguir as pisadas de mestres do ofício como Albert Camus, Julio Cortázar ou Boris Vian que “O livro das despedidas” atinge as suas passagens mais elevadas.
É nesses longos períodos dedicados à escrita, indiferente à passagem das horas, que tem a certeza de que a literatura, mais do que uma vocação, é o seu destino.
Sem intuitos moralistas de maior, Velibor Colic narra o modo como se libertou dos vícios que associava ao ato criativo, ao mesmo tempo que descreve a crescente aceitação pelo seu trabalho, sem ter, todavia, a ilusão de que alguma vez o país de acolhimento poderá vir a tornar-se na sua pátria.