Discos analógicos voltaram a ser disputados pelos consumidores, ao contrário dos CD, cuja procura caiu mais de 53% de 2015 a 2019.
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Nos Estados Unidos da América, está "para breve", segundo a revista "Rolling Stone", o que ainda há poucos anos parecia impensável: a ultrapassagem nas vendas do vinil face ao CD. Em Portugal, o cenário pode parecer ainda distante (os discos compactos deverão representar, no final deste ano, 4,1 milhões de euros e os analógicos 1,7 milhões). Todavia, caso se mantenha a tendência dos últimos anos - com um aumento da procura do vinil de 198% e uma queda no CD superior a 53%, de 2015 a 2019 -, essa ultrapassagem pode acontecer já no final de 2021.
Os números não surpreendem, de todo, Miguel Carretas. O diretor-geral da Audiogest, entidade de gestão coletiva dos direitos dos produtores fonográficos, recusa-se a fazer futurologia, mas não duvida que, no caso dos CD, "as vendas vão continuar a cair nos próximos anos", num mercado já dominado pelo streaming (os números projetados pela Audiogest para 2019 indicam que 66% das receitas sejam serão geradas no digital). Uma previsão tão certeira como o apelo do vinil junto de uma faixa etária madura. São, regra geral, "pessoas que, apesar de subscreverem serviços de música online, têm vontade ainda de possuir o objeto físico de artistas com os quais têm uma relação afetiva mais próxima", explica.
As edições "deluxe" de bandas clássicas são particularmente populares. Nos EUA, na tabela dos mais procurados no primeiro semestre do ano, encontramos, por exemplo, os Queen e os Beatles. Em Portugal, assiste-se a um fenómeno similar. Entre os mais vendidos, estão discos como "The dark side of the moon", dos Pink Floyd, "Rumours", dos Fleetwood Mac", "Nevermind", dos Nirvana ou "Legacy" de David Bowie.
A par dos clássicos, o segmento da música de dança é aquele onde as famosas rodelas têm um público mais fiel. Parte significativa desse público são os próprios DJ, que, apesar de todos avanços tecnológicos das últimas décadas, continuam em muitos casos a apreciar as particularidades do vinil. Com a procura crescente do analógico, as fábricas que produzem em vinil (fora de Portugal, sobretudo) têm mais dificuldade em satisfazer as encomendas. Segundo apurámos, o prazo de entrega dos discos em vinil chega a ultrapassar os três meses.
Recuperação parcial
O ano de 2018 não deixou grandes recordações ao mercado discográfico nacional. Depois de três anos de crescimento contínuo, até patamares próximos dos 21 milhões de euros, no ano transato assistimos a um recuo até aos 17 milhões. Uma descida que Miguel Carretas atribui a diferentes fatores, desde a extinção do serviço de música disponibilizado pela Altice à demora na transposição de uma diretiva comunitária que prevê "o fim da isenção de direitos" das plataformas de partilha de conteúdos, de que o YouTube é, de longe, o mais popular.
As projeções para 2019 já preveem uma ligeira recuperação, para valores já muito próximos dos 18 milhões e meio de euros. Ainda assim, menos de um sexto do que o mercado valia no início do século, 120 milhões de euros.
DADOS
1.7 milhões de euros é o volume de vendas de discos em vinil projetadas até ao final de 2019
198% de crescimento do mercado do vinil em 2019, segundo prevê a Associação Fonográfica Portuguesa/Audiogest
18,3 milhões de euros é o valor global do mercado discográfico português até ao final do ano. O digital terá um peso de 66%