
Forte presença de jovens foi destacada pelas editoras e livrarias
Leonel de Castro/Global Imagens
A edição deste ano da Feira do Livro do Porto, que terminou no passado domingo nos Jardins do Palácio de Cristal, ficou marcada por um número mais elevado de visitantes - pelo menos 155 mil -, mas também de volume de negócios. Em média, esse aumento situou-se nos 20%, de acordo com a auscultação feita pelo JN.
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As expectativas eram baixas, mas o desenrolar da feira acabou por surpreender a generalidade dos participantes da Feira do Livro do Porto. De acordo com uma ronda alargada junto de editores, livreiros e alfarrabistas, o volume médio de negócios aumentou 20% face à edição do ano passado, embora alguns dos participantes tenham referido aumentos na ordem dos 30%.
Sem os condicionalismos das duas anteriores edições, marcadas pelo uso obrigatório de máscaras e pelo distanciamento social, os visitantes acorreram em massa. De entre estes, os jovens foram dos grupos etários mais representados, segundo vários participantes.
"Os jovens estão, claramente, a comprar mais livros", apontou Maria José Veiga, da editora Cordão de Leitura. O único senão dessa maior apetência juvenil é o reduzido poder de compra, já que as escolhas tendem a cair nos livros mais baratos. Mas também nas restantes faixas etárias o panorama não é muito diferente, segundo António Vasconcelos, da Excelsior, que situou o valor médio de compra entre os cinco e os sete euros. "Infelizmente, as pessoas não parecem dispostas a dar muito mais por um livro", lamentou.
Se a ficção voltou a concentrar boa parte das escolhas, a surpresa acabou por recair em géneros ou segmento muito específicos. No alfarrabista bracarense Angels Formula, a procura por mapas obrigou mesmo a um reforço da oferta a meio do certame. Outro fenómeno foram os livros sobre o Porto, que atraíram uma clientela muito alargada.
Na Mosaico de Palavras, a editora, Elvira Santos, mostrou-se "muito satisfeita" com a procura elevada que teve "Averno Dei", um romance da autoria de Humberto Rocha situado no Porto da segunda metade do século XIX e primeiros anos do século XX, que vendeu 136 exemplares.
O balanço positivo feito pelos participantes a um evento que, à entrada do último dia, já tinha atraído 155 mil visitantes, adquire ainda maior relevo porque, à partida, poucos esperavam tamanha procura. "Devido à conjuntura, estava à espera de uma descida, mas não foi o que aconteceu", afirmou João Tavares, da Narrativaobvia.
Também nas editoras nacionais, o contentamento foi óbvio. Uma das poucas editoras de Lisboa a participar diretamente na Feira do Livro do Porto, a Saída de Emergência registou, em Lisboa e no Porto, uma subida de 10,7% face a 2021, ano que já tinha sido "o melhor de sempre", segundo Cláudia Teixeira, assessora de comunicação da editora.: "Partimos para esta feira com o objetivo de fazer igual a 2019, antes da pandemia, mas o número de visitantes foi extraordinário e inesperadamente superámos o ano passado".
Sem surpresa, os livros de George R. Martin foram os que registaram maior procura na Saída de Emergência, seguidos por clássicos como "Fahrenheit 451" e "Os Irmãos Karamázov".
Mesmo com os elogios em clara maioria, os reparos não ficaram de fora. Entre os mais críticos está o alfarrabista da Exlcesior, que defende ser chegada a altura de a autarquia substituir os "já muito degradados pavilhões". "Basta chover um pouco para que fiquem logo cheios de água", criticou António Vasconcelos, pouco convencido ainda sobre a qualidade da programação cultural, que considera "muito elitista" e pouco eficaz "a mobilizar pessoas".
