O regresso dos The xx ao Passeio Marítimo de Algés foi recebido em apoteose pelas 55 mil pessoas que encheram o recinto no primeiro dia de Nos Alive. A noite terminou ao som dos "hits" mais dançáveis de The Weeknd.
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A vénia aos The xx foi feita assim que subiram ao palco, pouco passava das 22.40 horas. O trio britânico foi recebido com uma ovação, que se foi repetindo entre as canções, recebidas pelo público como autênticos hinos.
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Depois de, em 2010, terem deixado o atual palco Heineken a rebentar pelas costuras e muitos a lamentar não ter assistido ao espetáculo, a banda de Jamie "xx", Romy Croft e Oliver Sim teve um palco à altura e conseguiu imprimir-lhe a intimidade desejável para a fruição das canções que criam. Entre 2010 e 2017, a banda cresceu, aprofundou cumplicidades, soltou-se. E tu isso se vê em palco e se sente fora dele, na comunhão que a banda consegue criar com o público.
O trio arrancou com "Crystalised", do disco de estreia, "xx" (2009), e deslizou até ao presente com "Say something loving", do álbum editado no início deste ano, "I see you". A plateia entoou o refrão em coro, com sentimento, tal como a canção exige. Entre o passado e o presente, o alinhamento serpenteou entre os três discos do grupo, todos bem conhecidos da multidão, que se deixou envolver pelas canções de amor e tormenta esculpidas com guitarras e sintetizadores pelos britânicos.
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Ao amor do público, o vocalista e baixista Oliver Sim respondeu: "Nós adoramos esta cidade. Obrigada por nos receberem." "Islands" mereceu palmas aos primeiros acordes, a novíssima "I dare you" revelou toda a cumplicidade das vozes de Romy e Oliver Sim.
"Performance" e "Brave for you", do novo disco, revelaram toda a intensidade de Romy Croft, voz e guitarra a convocar todas as emoções. A descarga emocional mereceu um beijo de Oliver Sim, no final de "Performance", num momento de total genuinidade.
"Shelter", "Loud places" e "Hold on" arrebitaram as ancas da multidão, antes de "Angels" - dedicada à noiva de Romy - marcar a despedida de um concerto que, certamente, ficará na memória da edição deste ano do festival.
Em simultâneo, no lado oposto, a tenda Heineken estremecia com a bordoada rock de Royal Blood, uma alternativa que se afirmou um escape para muitos que não se deixaram seduzir pelos The xx. O duo britânico não se perdeu em hesitações nem em cerimónias e disparou uma ventania elétrica sobejamente prazenteira, ainda que por vezes tenha parecido demasiado domesticada, controlada, geométrica - a pedir curvas inesperadas. Ou seja, os Royal Blood libertaram uma dinâmica de róque que convidava ao abanar do esqueleto mas não a grandes viagens cerebrais.
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Momentos antes, Ryan Adams ondulou precisamente nas mesmas energias, sem chatear e sem deslumbrar, na sua pose vagamente selvagem, cabelos derramados sobre os olhos e toda uma muralha de ruído nas suas costas. Ao lado, no Edp Fado Café, Miguel Araújo protagonizava a segunda enchente da noite, num palco manifestamente pequeno para o homem que conseguiu encher várias vezes os coliseus. O JN tentou assistir ao concerto, em vão, assim como muitos outros festivaleiros que se encavalitavam à porta à espera de uma aberta.
The Weeknd encerrou primeira noite
A dividir a liderança do cartaz nesta primeira noite, o R&B seduzido pela Pop de The Weeknd, que regressou a Portugal para apresentar o novo disco, "Starboy" (2016). A poderosa canção que empresta o nome ao álbum foi a eleita para abrir o espetáculo, uma escolha de peso cujo impacto se foi desvanecendo à medida que "Party monster" deu lugar às mais intimistas "Reminder" e "Six feet under", também colheita do último disco.
O rapaz que, em 2010, começou a produziu umas mixtapes e a disponibilizá-las online é hoje uma estrela pop à escala planetária, mas é notório que ainda lhe falta tarimba para conseguir aguentar uma hora de espetáculo concentrada sobre si. Há boas canções, a voz de Abel Makkonen Tesfaye (nome de guerra: The Weeknd) não deixa nada a dever ao que se ouve nos discos e vê-se que tem treino na arte de comandar multidões. Mas durante mais de metade do concerto estas virtudes, amplificadas pelos artifícios visuais que fazem escola nos grandes espetáculos de estrelas da Pop, não pareceram suficientes para evitar uma leve debandada após o concerto de The xx.
Dos álbuns de 2013 e 2015, The Weeknd trouxe "Acquainted" ou "Wicked games", mas foram as muito dançáveis "In the night", "Rockin" e "Secrets" que conseguiram devolver chama ao espetáculo, provocando uma explosão de dança na plateia. O sucesso "Can't feel my face" - responsável pela volta de 180º na carreira do músico - teve ligação direta a "I feel it coming" e o público vibrou como se o mundo acabasse antes de "The hills", a canção escolhida para o encore.
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