Filme-concerto, com meia centena de elementos da comunidade e músicos em palco, foi apresentado este fim de semana em Paredes de Coura e Ponte de Lima
Corpo do artigo
Percorrer três rios, as suas margens, deslizando pela superfície e mergulhando nas suas águas até ao leito, ao som de música, que oscila entre melodias suaves e rock duro. É a proposta do filme-concerto "Minho Coura Lima", apresentado este fim de semana em Paredes de Coura e Ponte de Lima. E que segue para uma terceira apresentação no próximo dia 19, no Cineteatro João Verde, em Monção. O espetáculo insere-se no Space Festival, que decorrerá durante todo o mês de novembro, um fim de semana em cada localidade, e que, além dos referidos municípios, incluirá ainda Montemor-o-Velho e Caminha. Um festival, organizado pela formação musical Space Ensemble, que promove projetos de música experimental e improvisada, fora dos grandes centros urbanos.
O "Minho Coura Lima" é um deles e reúne num mesmo espetáculo, numa interação constante e misturando diversas sensibilidades musicais, cerca de meia centena de elementos da Escola do Rock de Paredes de Coura, do Ensino Articulado de Monção da AMFVP e do Orfeão Limiano. E proporciona uma viagem musicada ao vivo de um filme realizado por Nuno Alves (Space Ensemble), que vai sendo projetado num ecrã gigante em palco em simultâneo com o concerto.
A vida de guarda-rios
O filme que, segundo o realizador, é contado "na primeira pessoa por uma personagem fictícia com a profissão de guarda-rios (também nome de espécie de ave aquática)", e que "solitário" percorre as águas, ora calmas ora em rebuliço, de três rios que atravessam a região do Alto Minho, os seus caminhos, pontes e passadiços. Exibe "alertas noticiosos" sobre lontras, rafting e pesqueiras (construções em pedra amuralhadas para pesca de espécies como lampreia) no Minho, saltos [mergulhos durante o festival] no rio Coura. E, no Lima, sobre canoagem e o campeão mundial Fernando Pimenta, ou a tradicional Vaca das Cordas que ocorre no areal em Ponte de Lima, onde estacionam carros que ficam semissubmersos quando há cheias e até já foram vistos elefantes a banharem-se no rio (imagens do Youtube de um grupo de elefantes do circo Victor Hugo Cardinali que se tornaram virais em 2015).
"Fizemos um levantamento e o Youtube é um mundo, como diz algures nos créditos finais [do filme], e havia essas curiosidades de encontrar situações absolutamente anormais nos três rios. Mesmo coisas que acontecem no Coura, durante o festival também são um bocadinho anormais em relação ao resto do ano", refere Nuno Alves, descrevendo que, entre música e estrutura do filme, "nenhum deles nasceu primeiro, foram sendo articulados". "Cada capítulo tem uma estética, uma temática e um ambiental musical muito diferentes. Era essa a experiência que queríamos dar ao grupo".
A direção musical do projeto coube a Samuel Coelho, Miguel Ramos, Maria Mónica, Sérgio Bastos e João Martins. Este último conduz o concerto. "Esta é uma viagem musical, que é também uma descoberta. Não sabemos onde é que vamos chegar. Temos algumas pistas e indicações, mas é literalmente uma viagem", afirma João Martins, fazendo o paralelismo entre a experiência do percurso pelos rios e da conceção de uma "banda sonora" experimental. "Nenhum destes grupos está a fazer aquilo que faz normalmente e isto também não é propriamente uma soma das partes. É maior do que isso. É muito da descoberta que estes grupos fazem quando se encontram", disse.