O coreógrafo e encenador Victor Hugo Pontes é o novo diretor artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, divulgou esta sexta-feira este equipamento cultural sobre o nome escolhido num concurso internacional que teve 17 candidaturas.
Corpo do artigo
Na cidade onde o granito serve de palco à palavra, um novo nome escreve-se agora sobre o pano de boca do Teatro Nacional São João: Victor Hugo Pontes, encenador e coreógrafo de horizontes múltiplos, foi escolhido por unanimidade para assumir a direção artística da instituição no quadriénio 2025–2028. A escolha foi feita num concurso internacional que recebeu 17 candidaturas é mais do que um gesto de confiança: é um sinal de tempo e de vontade, um sopro de reinvenção sobre o repertório, o gesto cénico e a política do corpo em cena.
O júri, presidido por Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração, reconheceu no percurso de Victor Hugo Pontes uma rara conjugação entre consistência e risco, entre ética colaborativa e liberdade estética. O seu trabalho, tecido entre a dança, o teatro, a música, o cinema e as artes visuais, delineia um mapa onde a criação não se submete a fronteiras, mas dialoga com elas, reformulando os seus contornos. Pontes pensa o palco como um organismo vivo, e, talvez por isso, nunca dissocia o gesto artístico do lugar que o acolhe, da voz que o diz, do corpo que o sustém.
Nascido em 1978, em Guimarães, Victor Hugo Pontes traz consigo não só a solidez do seu percurso como intérprete, encenador e formador, mas também a delicadeza de um olhar que se aproxima da dramaturgia como matéria plástica, moldável, habitável. A sua formação multidisciplinar, entre as artes plásticas, a dança, o teatro e a cenografia, confere-lhe uma linguagem híbrida, singular, com a qual revisita textos clássicos e contemporâneos, mas também corpos invisibilizados, margens sociais, a infância ou o silêncio urbano.
Foi essa pluralidade: estética, disciplinar, geracional que sustentou a sua candidatura, alinhada com a Carta de Missão do TNSJ, mas filtrada por uma voz própria, idiossincrática. Propõe cinco eixos que entrelaçam passado e futuro: sedimentar e renovar o repertório, valorizar a criação emergente, diversificar públicos e linguagens, reforçar a dimensão educativa e ampliar a presença internacional do TNSJ. Não se trata de uma reforma abrupta, mas de um trabalho subterrâneo, paciente, de reenraizamento e ressonância.
Nos bastidores da Nome Próprio, estrutura que fundou e dirige, Victor Hugo Pontes ensaiou, ao longo de anos, essa arte de conjugar escala e escuta, técnica e intuição, política e intimidade. Trabalha com intérpretes com e sem formação, de diferentes idades, ocupando palcos formais e espaços informais, sempre com a atenção colocada no outro: no corpo do outro, na palavra do outro, na diferença como lugar criativo.
Em 2019, venceu o Prémio SPA de Melhor Coreografia com o espetáculo "Margem" uma peça que, como tantas das suas, se debruça sobre aquilo que habita as franjas, os limites, o que não se diz. Esta é, também, uma das marcas da sua direção: dar corpo ao que permanece à margem, trazer luz a zonas ainda não visíveis.
O seu percurso internacional com apresentações na Alemanha, Bélgica, França, Países Baixos, Rússia, Itália e Brasil alia-se a uma profunda ligação à cena nacional, ao Porto, ao TNSJ, onde já apresentou obras marcantes. Esta nomeação não é um regresso, é uma continuação por outras vias uma maneira de inscrever o seu gesto dentro de uma casa que não lhe é estranha, mas que agora habitará com outras responsabilidades.
A sua entrada em funções, anunciada para breve, não será um estrondo. Será, antes, o prolongamento de uma escuta: ao teatro enquanto lugar de encontro, ao repertório como matéria mutável, ao corpo como texto vivo. Em Victor Hugo Pontes, o São João encontra um diretor que sabe que a criação exige tempo, presença, dúvida e relação. Um diretor que traz a dança para o centro da palavra, e a palavra para o centro do corpo.